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SILVIO TONY SANTOS DE OLIVEIRA
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DA FEMINILIDADE ECLIPSADA AOS ESPECTROS LUXURIOSOS DE EROS: DILIGÊNCIAS DO
DESEJO NA MÍTICA LITERÁRIA DONJUANESCA
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Data: 22/12/2023
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Hora: 14:00
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Da antiga medicina egípcia à alopatia helênica; de Hipócrates a Galeno; das teorias dos humores
à teoria da degenerescência cerebral oitocentista, a histeria foi questionada pelos diversos campos
do conhecimento, a saber: filosófico, medicinal e religioso. Diante da impossibilidade de uma
assertiva conceitual quanto à etiologia de seus sintomas, restou à cultura patriarcal defini-la muito
mais como uma enfermidade de diferenciação binária entre os gêneros e muito menos como uma
expressão própria da constituição psíquica dos indivíduos. Em outros termos, a concepção do
atroz deslocamento uterino, no corpo feminino, permeou séculos e os mais diversos contextos
sócio-históricos. Quanto ao masculino, desde a medicina hipocrática, a epilepsia e a hipocondria
se consolidaram como patologias típicas do homem, as quais reivindicavam nosologias e
processos terapêuticos diversos em relação ao seu correspondente no sexo oposto, consoante
Trillat (1991). Assim, é, a partir do XIX, que a histeria ascende como objeto reconhecido
cientificamente nos petit comitês médicos europeus. Com efeito, as revoluções terapêuticas, mais
humanizadas, implantadas pelo psiquiatra Phillipe Pinel (1745-1826) e a relação mente/afetos,
proposta por Pierre Biquet (1796-1881), contribuíram para um outro olhar acerca dos fenômenos
histéricos. Sequencialmente, as postulações cartográficas do neurologista francês Jean Martin
Charcot (1825-1893) se destacaram ao conceber a possibilidade da não exclusividade do feminino
acerca das manifestações somáticas histéricas. Partindo do princípio da atuação de uma
experiência traumática, Outra cena, sobre a consciência, a medicina charcotiana inicia os
primeiros passos para aquilo que, posteriormente, seria o objeto central da psicanálise: o
Inconsciente. Logo, em plena época vitoriana, Sigmund Freud (1856-1939) começa a desnudar
as incógnitas da histeria, vislumbrando um para-além do estado de vigília e verificando, em sua
clínica, que a citada psiconeurose em muito se aproxima das fantasias eróticas dos indivíduos direcionadas às figuras parentais, conforme é postulado nos Estudos sobre a Histeria (1895). Em
contrapartida, as manifestações artísticas, em especial, a Literatura, expõem, à revelia da
consciência autoral, os mais recônditos elementos do psiquismo. Não por acaso, influenciado pelo
imaginário popular medieval, mas buscando um caráter pedagógico de controle dos impulsos
comportamentais, insurge, sob a pena do religioso e dramaturgo Tirso de Molina, o arquétipo
subversivo do dom-juanismo. Em um cenário religioso e inóspito para o gozo do corpo, Don Juan,
por meio de suas conquistas amorosas, mimetiza o extravasamento libidinal; o caráter sedutor; e
a posição de objeto de desejo do Outro, característica marcante na estrutura histérica. Logo, os
processos psíquicos do burlador de Sevilla, escancaram as primitivas relações objetais, projetadas
nos enquadres triangulares de um complexo edípico claudicante. Não por acaso, de Lord Byon
(1788-1824) a E. A. T. Hoffman (1776-1822), chegando ao contemporâneo, a mítica libertina
donjuanesca desvela a pretensão humana de subverter as amarras culturais, as quais vetorizam o
comportamento social, como nos é exposto em Mal-estar na civilização (1930), e a almejada
fantasia narcísica da não confrontação com a frustração da incompletude. Destarte, esta pesquisa
tem por escopo discutir os itinerários subjetivos, o extravasamento libidinal e as indissincrasias
da masculinidade histérica na obra contemporânea Don Juan Acorrentado (1999), da escritora
Wanda Fabian. Para tanto, além da teoria freudiana, propomo-nos a estabelecer convergências
entre as teorias psicanalíticas Lacan (1970); Melanie Klein (1946); Sándor Ferenczi (1924),
entre outros - e a Psicologia Analítica postulada por C. G. Jung (1875-1961). Logo, vislumbramos,
no modus operandi donjuanesco, projeções arquetípicas que se encontram, desde illio tempore,
manifestas na cultura e na religiosidade das antigas civilizações e que passam a nortear o eixo do
complexo do Eu, como bem discute Jung, em Os arquétipos e o inconsciente coletivo (1959).
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WANESSA DE GÓIS MOREIRA
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OS CLAMORES ESTRÉPITOS DE UMA MULHER: AS RUÍNAS DA MATERNIDADE EM ANJO NEGRO, DE
NELSON RODRIGUES
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Data: 22/12/2023
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Hora: 09:00
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Anterior ao século XX, a condição materna, por muito tempo, atrelou-se ao
feminino com ajuda dos grilhões morais, que atravessavam os corpos e rasgavam as
subjetividades femininas, de adornos culturais e com as indumentárias convencionais da
mãe perfeita, pura e casta, como um percurso que deveria ser seguido para a obtenção
de uma redenção divina. Essa diagramação evidencia a violência perpetrada ao
feminino, através dos discursos hierárquicos, que tinham o objetivo de dominar e
controlar os itinerários da mulher perante a sociedade, em especial, o da maternidade.
Contudo, em meio às brumas da religião e da repressão cultural, a então ciência da
subjetividade, empreitada pelo neurologista vienense Sigmund Freud (1856-1939),
acabara por demolir algumas estruturas sociais e religiosas que versavam sobre o corpo
da mulher. A partir dos estudos freudianos, a figura da mãe passa a ser estendida e
dilatada do seu sentido denotativo, para uma perspectiva embasada em sua
individualidade, na busca de legitimar os desejos sui generis. Isto é, a mulher/mãe passa
a percorrer as veredas da liberdade social, quando expressa e contesta sobre suas
vontades subjetivas, como o de não querer ser mãe. Eis o caso da personagem
Virgínia, presente na tragédia plasmática que é pulsionada pela maldição e cólera: Anjo
Negro (1946), de Nelson Rodrigues. A protagonista orquestra, indiferentemente, uma
chacina de sua própria prole, por afirmar que o lugar de mãe não a pertence, mas
unicamente o de esposa. Virginia, em todo momento da narrativa, deixa explícita sua
vontade de ter o Ismael, de modo coadunado e simbiótico, por medo de perdê-lo, sendo
capaz de percorrer qualquer agrura com toda fúria presente em seu feminino e até se
esvair de si mesma, (tudo) em nome do amor a Ismael. Nesse caso, para analisar tal
conduta da personagem, convidamos o pai da Psicanálise, bem como os pós-freudianos com os conceitos pautados no momento que a mulher desnorteia seus sentidos e sua
razão, após perder um objeto de amor, por se deparar, inconscientemente, com a
falta que lhe estrutura como sujeito faltoso. Destarte, buscaremos refletir, tal pesquisa,
a partir das diferentes expressões do desejo de Virgínia, que quer gozar para além de sua
maternidade e de sua feminilidade. Como dito pelo pai da Psicanálise, a sexualidade
feminina e seus múltiplos matizes estão longe de ter uma resposta definitiva, portanto,
continuemos a investigá-(e)las em busca de novas chaves e decifrações
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TAMARA PEREIRA DA SILVA MACHADO
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VISUAL VERNACULAR: UMA PRODUÇÃO CULTURAL SURDA COM LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
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Orientador : JANAINA AGUIAR PEIXOTO
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Data: 21/12/2023
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Hora: 14:00
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Esta pesquisa qualitativa e descritiva apresenta um estudo desenvolvido no curso de mestrado do programa de pós-graduação em letras (PPGL-UFPB), que objetivou analisar os elementos estéticos literários e os elementos da linguagem cinematográfica presentes na produção cultural Visual Vernacular (VV), para fomentar uma melhor compreensão das características estilísticas que formam este artefato criado especificamente por artistas surdos, baseado na sua experiência visual de mundo. Este objetivo geral deu origem aos seguintes objetivos específicos: Compreender as características estilísticas da produção cultural (artefato) original do povo surdo denominada de Visual Vernacular; Identificar elementos da linguagem estética e cinematográfica em obras literárias reconhecidas como Visual Vernacular; E por fim, analisar o efeito estético criado pela linguagem utilizada para composição das obras literárias pertencentes ao estilo Visual Vernacular. Como suporte teórico dos elementos estéticos literários adotamos Sutton-Spence (2021), para fundamentar os elementos cinematográficos nas produções sinalizadas adotamos Castro (2012) e para reconhecer a VV como um artefato cultural originalmente criado no interior do Povo Surdo, adotamos Strobel (2008). Ancorados principalmente nesses autores as obras analisadas foram: a poesia Não mexe com o que não te pertence, Slam VV de mulheres ao vivo, da autora surda Cristiane Esteves de Andrade, e o poema VV Os cangaceiros X coronéis do autor surdo Alexandre Moreira. Entre os resultados obtidos durante a análise identificamos nas três obras os seguintes elementos estéticos característicos do estilo visual vernacular: Incorporação, Antropomorfismo, Classificadores, Expressões Facial e Corporal, Repetição, Espaço, Ritmo e Velocidade. Além de, Múltiplas perspectivas, que na produção Visual Vernacular são enfatizadas e apresentadas de forma muito mais detalhadas, nas seguintes ramificações das técnicas cinematográficas: Plano Grande Geral, Plano Geral, Plano Americano, Plano Próximo e Plano Close-up. No Slam, a segunda obra analisada, além de todos esses elementos citados anteriormente, identificamos também o elemento estético denominado de Exterior/Interior. Enquanto que, na terceira obra analisada, além de todos esses elementos encontrados anteriormente nas duas obras, identificamos mais um elemento cinematográfico, denominado de 3D. Concluímos então, neste estudo que por ser uma produção autêntica de artistas surdos e com maior evidência e crescimento após a pandemia, muito ainda precisa ser estudado sobre o artefato cultural Visual Vernacular, mas com base neste estudo podemos afirmar que, quando os autores escolhem esses elementos artísticos para a composição das suas obras literárias de diferentes gêneros pertencentes ao estilo Visual Vernacular, têm a intenção de gerar vários efeitos estéticos fortemente visuais para o seu público reconhecidos como o suspense, a curiosidade, a reflexão, a tristeza, entre outros sentimentos e emoções.
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CARLISSON MORAIS DE OLIVEIRA
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Álvares de Azevedo e bipolaridade: uma iluminação recíproca
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Data: 18/12/2023
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Hora: 15:00
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A premissa desta tese é dupla: a leitura da poesia de Álvares de Azevedo, a partir da
bipolaridade, ajuda a percepção de sua poesia; simultaneamente, sua poesia sua arte
com as palavras ajuda a iluminar os estados e os sentimentos dos bipolares. O trabalho
é dividido em duas partes. Na primeira, discutem-se o autor e suas obras; na segunda, as
influências e abordagens acadêmicas. Em particular, defendemos que a divisão da Lira
dos vinte anos, nas conhecidas, "Primeira" e "Segunda", pode ser lida como agrupamentos
de poesias majoritariamente, mas não, exclusivamente, ligadas aos dois estados da
bipolaridade: "Primeira parte", depressão; "Segunda parte", mania. Assim, propomos uma
leitura, para a binomia citada pelo próprio Álvares de Azevedo na Lira. No primeiro
capítulo aborda-se a questão do autor, na crítica literária, baseando-se em Barthes e
Landy. No segundo, discute-se a sua bipolaridade, pois é amplamente influenciado pela
obra Touched with Fire de Kay Redfield Jamison (1993). Inicia-se com um comentário
sobre a bipolaridade, a partir da psiquiatria, particularmente do DSM-5-TR (2023) e
Diogo Lara (2009), detalhando a bipolaridade Tipo I, Tipo II e Ciclotimia. O terceiro
capítulo é composto por análises de poesias abordadas, individualmente, dividindo-se em
duas seções: a) para cima; b) para baixo.
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AMASILE COELHO LISBOA DA COSTA SOUSA
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Práticas de leitura literária na educação básica no município de Campina Grande PB
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Data: 18/12/2023
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Hora: 14:00
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Para muitos alunos, principalmente os da rede pública, a escola é o único local em que
têm a oportunidade de vivenciar experiências com o texto literário, permitindo que
compreendam melhor a si mesmos e o mundo em que vivem. A partir desse contexto, a
pesquisa buscará investigar as práticas de leitura literária nos anos finais do ensino
fundamental em escolas públicas na cidade de Campina Grande-PB. Para
perseguirmos esse objetivo, seguimos o seguinte percurso metodológico: i) entrevistamos
13 professores com a finalidade de compreendermos as práticas de leitura literária que
estão sendo produzidas nas escolas; ii) analisamos documentos oficiais do município de
Campina Grande, local onde as escolas estão localizadas, além de outros documentos a
nível nacional e, por último, iii))Produzimos um Diário de Campo que nos permitiu
perceber particularidades a partir da visitação as dez escolas investigadas. Estamos,
portanto, diante de uma pesquisa de campo, de natureza documental que nos possibilitará
fazer um diagnóstico das práticas de leitura literária, dando-lhes a devida visibilidade. Para a análise dos dados, apropriamo-nos de reflexões voltadas para a formação do leitor
literário em que destacamos os trabalhos de Zilberman e Lajolo (2019), Colomer (2007),
Bordini e Aguiar (1988), Pinheiro (2018), Yunes (2002), Castrillón (2011), Lerner
(2002), Bajard (2001), Tardiff (2007), entre outros. Como resultado, lançamos um olhar
reflexivo sobre o processo de formação do leitor literário em escolas públicas do
município de Campina Grande-PB. Apesar de tantas dificuldades percebidas no cotidiano
escolar- conflitos, violência, desânimo de alguns professores, estrutura física deficitária e
falta de políticas públicas voltadas para a leitura de textos literário-, encontramos em
muitas das escolas pesquisadas, práticas criativas, que se tiverem aprimoramento e
continuidade, darão grande contribuição para o processo de formação do leitor literário.
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ELISANGELA MARCOS SEDLMAIER
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Por uma poética sexual da carne: cartografia da prostituição
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Data: 18/12/2023
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Hora: 09:00
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O presente trabalho tem como propósito cartografar as escritas de si, através das vozes de
escritoras que dissertaram sobre o seu labor, a prostituição. Os escritos começam a surgir a partir
da década de 1990, e vão perpassando o tempo e ganhando força, até chegar aos dias atuais.
Buscamos abordar, no primeiro capítulo, a trajetória da história da prostituição e,
consequentemente, da prostituta. De forma significativa traz também a narrativa da mulher, a qual
o sagrado cede seu lugar ao profano, e adentra na sociedade como uma necessidade masculina,
que mesmo assim é recoberta de preconceitos e estigmas, e enraizaram-se até os dias atuais.
Alicerçando-nos nestes debates encontramos Roberts (1998), Prada (2018), Despentes (2016),
Adler (1991) e tantos outros nomes que ajudam a (re)construir e compreender a história oficial.
Após a saída dos meandros do passado e a caminhada até o presente, vamos no ancorar nas
cartografias do corpo, do corpo feminino, ou melhor, da complexa construção dos diversos
femininos, a partir dos estudos de Freud (1932), e outros autores mais contemporâneos que
continuam a tirar os véus desse continente misterioso. Ao abordar questões que perpassam a
sexualidade e o desejo na prostituição, somos levados ao terceiro momento do trabalho, quando
para além da teoria deparamo-nos com as escritas de si, com a literatura escrita por mulheres
que exercem a prostituição ou já foram prostitutas. A partir de seus relatos faz-se uma intersecção
com a história e com estudos e conceitos psicanalíticos, buscando representar as subjetividades e
representações que perpassam as prostitutas, possibilitando deparar-nos com os desejos, vazios,
aspectos da(s) feminilidade(s), dentro das possibilidades encontradas de cada sujeito.
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NIELSON FIRMINO DE OLIVEIRA
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O ESPETÁCULO SEMIÓTICO DA LITERATURA SURDA ADAPTADA NO GÊNERO DRAMA
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Data: 14/12/2023
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Hora: 14:00
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Esta pesquisa apresenta um estudo desenvolvido no curso de mestrado do programa de
pós-graduação em letras (PPGL-UFPB), tendo como objeto de estudo a literatura
produzida na comunidade surda brasileira do tipo adaptada no gênero drama. Seu objetivo
geral é analisar o espetáculo semiótico de uma obra literária do gênero drama adaptada
nesta comunidade linguística. Este macro objetivo se desdobra nos seguintes objetivos
específicos: Catalogar as obras disponíveis do gênero drama adaptadas na comunidade
surda brasileira; Identificar os valores semióticos na obra literária selecionada; Analisar
a obra com base nos níveis do percurso gerativo de sentido estudado pela Semiótica
Greimasiana. Nesta discussão inédita exploramos a categorização apresentada por
Peixoto (2023) que aborda a literatura produzida pela comunidade surda e subdivide-a
em literatura surda, literatura em Libras e outras produções literárias de integrantes desta
comunidade linguística. Norteando esta pesquisa, temos como base a Semiótica
Greimasiana, para identificar os elementos do percurso gerativo de sentido na obra João
e Maria Surdos, produzida em Libras e em Língua portuguesa por alunos do curso de
extensão da UFPB. Entre os resultados obtidos durante a análise da obra nos níveis
fundamental, narrativo e discursivo, temos a identificação e análise de relevantes temas
abordados na obra, tais como: sobrevivência, rejeição, abandono, luta pelos direitos dos
surdos, engano, manipulação, entre outros. Além disso, constatamos que, o gênero drama,
como forma de arte da representação no palco, pode ensinar sobre os valores culturais da
comunidade surda, e precisa ser mais trabalhada em sala de aula no ensino de Libras como
segunda Língua (L2).
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MATHEUS PEREIRA DE FREITAS
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A ERRÂNCIA FANTÁSTICA DA SOLIDÃO: O TRIBUTO FEMININO EM CIEN AÑOS DE SOLEDAD
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Data: 12/12/2023
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Hora: 18:00
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Nos balaústres anímicos que fundamentam as premissas do ser, na busca emancipatória
do primeiro objeto amoroso, as fantasias inconscientes da criança, em seus espectros mais
arcaicos, tornam-se vitais para o desenvolvimento e, invariavelmente, contornam a
sobrevivência psíquica necessária para o advento da capacidade de estar só. Pois é na
desarticulação do real que as ausências podem ser ressignificadas e reelaboradas, urdindo
os semblantes necessários à (des)ilusão. Não obstante ao considerar os sentidos que
resguardam o sentimento de solidão, segundo os preceitos da psicanálise, cujo fazer
científico estrutura-se nas sendas ignotas do inconsciente, cerne da constituição subjetiva
do ser, ver-se-á como o sentimento em tela alicerça a (des)ordenação fundante das
relações entre o si mesmo e o julgo dos objetos, administrados pela gênese e aprendizado
do estar só. Algures, vertendo-se o olhar para a arcádia literária, e os seus saberes
ontológicos, vislumbra-se a obra magna de Gabriel García Márquez (1967), Cem anos de
solidão, um dos mais emblemáticos escritos do século XX e, quiçá, um dos testemunhos
mais íntimos deste sentimento ambivalente. Não por acaso, na poética do escritor latinoamericano, acompanha-se a família Buendía, subjugada a repetições e tragédias,
amaldiçoada pelo estigma do incesto, que delineia seu futuro premeditado, a partir de um
fio condutor que (des)estabiliza a fragilidade do seio familiar: a solidão. Assim, baseandonos nessas concepções iniciáticas, permitindo-nos ir além da interpretação arquetípica
consagrada pela crítica, essa pesquisa intenta analisar, com base nos pressupostos psicanalíticos, sobretudo, de Sigmund Freud (1856-1939) e Melanie Klein (1882-1960),
as personagens femininas do romance referido, observando como a solidão, estética e
subjetivamente, articula os planos narrativos que compõem a referida obra. Nesse escopo,
sem perder de vista as particularidades estéticas do realismo-maravilhoso, e os seus
respectivos estudos, debruçar-nos-emos sobre as solidões que estigmatizam e subjetivam
o feminino e a singularidade de três personagens do romance nobelista (Úrsula, Amaranta
e Remédios, a Bela), admitindo que, cada uma dessas mulheres, articulam os signos da
solidão, de modo particular, construindo defesas e fomentando angústias
(des)integradoras, a partir da volatilidade de suas (in)capacidades de estar só segundo as
moções próprias da neurose, psicose e perversão. Ademais, compreende-se a necessidade
de investigar este conceito esparso e, por vezes, nebuloso nos escritos da psicanálise
(DOLTO, [1985] 2013), assim, além dos autores citados, empreender-se-á em outros
nomes da psicanálise, como Donald Winnicott (1964), Guy Rosolato (1969) e demais
contribuintes de outras ciências humanas.
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ANDRESSA RAYANE DE BRITO BARBOSA COSTA
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A INCIDÊNCIA DO TEMPO E DO ESPAÇO NO SER: UM ESTUDO DOS CONTOS THANATOPIA E EL CASO DE LA SEÑORITA AMELIA DE RUBÉN DARÍO
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Data: 12/12/2023
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Hora: 15:00
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Rubén Félix García Sarmiento, ou, simplesmente, Rubén Darío, conta com uma longa
produção literária em língua espanhola, dividida entre a poesia e a prosa. Com sua escrita inovadora,
Darío tornou-se um nome importante no Modernismo hispânico. A publicação da coletânea de contos
e poemas, Azul, em 1988, foi decisiva para que o autor alcançasse prestígio e se tornasse o grande
nome do movimento Modernista hispano-americano. O esmero com a linguagem e com a qualidade
estética de sua produção literária revelam-se ponto indiscutível na leitura crítica da obra dariana. Na
prosa, Darío enveredou também pelos caminhos do fantástico, demonstrando, assim, a sua capacidade
de transitar entre diferentes gêneros. Seus contos fantásticos, em geral, narram histórias de
protagonistas que vivenciaram situações obscuras e inquietantes em espaço e tempo determinados. A
experiência com esses episódios fantásticos age de forma impactante na vida dos personagens, que
observam com impotência suas vidas se transformarem. Exemplos dessas situações podem ser
encontradas nos contos Thanatopia (1893) e El caso de la señorita Amelia (1894), ambos
selecionados como corpus de análise desta dissertação. No primeiro, o leitor se depara com a intrigante
história de James Leen, narrador-personagem, que, ao retornar à casa, descobre seu pai casado com
uma vampira. No segundo, acompanhamos a história do Doutor Z., que sofre por seu antigo amor
nunca concretizado. Neste último, curiosamente, o tempo decorrido envelhece os personagens da
narrativa, exceto uma, Amélia, que permanece uma menina de doze anos. Considerando a impactante
relação espaço-temporal que se estabelece nessas narrativas, analisamos a construção literária de
Rubén Darío, alicerçada na ação cronotrópica e sua incidência na configuração dos protagonistas.
Constatamos que as categorias do tempo e do espaço contribuem significativamente para a construção da ambientação fantástica e, também, para a transformação dos personagens. A ação conjunta e quase simultânea dos cronotopos, somadas a vivências fantásticas, modificam esses dois eus narrativos, levando-os a uma eterna vida de medos e mergulhados na melancolia. O estudo investigativo partiu dos pressupostos teóricos de Bakhtin (1998), Holquist (2015), Ramirez (2016), Sanz (2016), Nunes, (1995), Ricoeur (1994), Tomachévski (1976), Gama-Khalil (2018), Brandão (2019), Bachelard (2008), de Jímenez (1892), Hahn (1978), Oviedo (2012),
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JESSICA FLORENTINO SOARES DA SILVA
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Do labirinto ao abismo: os efeitos da metalepse na estrutura narrativa do livro O labirinto do
Fauno, de Guillermo Del Toro e Cornelia Funke
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Data: 05/12/2023
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Hora: 14:00
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Ao longo dos anos, os estudos narrativos se tornaram fundamentais para as pesquisas no
campo literário. Compreender uma narrativa vai além de acompanhar sua história; é
também observar sua estrutura, as etapas do processo que dão sentido à obra e aos seus
fenômenos. Ademais, embora haja muitas pesquisas e artigos sobre adaptação
cinematográfica, é raro encontrar trabalhos sobre a adaptação literária a partir do filme.
Isso é evidenciado pela escassez de investigações acadêmicas que normalmente se
concentram na transposição da literatura para o cinema, raramente o contrário. Também
é preocupante a falta de estudos direcionados aos elementos narrativos metalépticos e de
mise en abyme, assim como a compreensão dos efeitos interpretativos que eles podem
gerar. A existência dessa lacuna dificulta o avanço acadêmico na área, já que é a partir
da absorção dos elementos componentes da estrutura sem dissociar da história - que se
pode, de fato, analisar uma obra. Nesse sentido, a presente dissertação tem como
objetivo geral a análise dos fenômenos estruturais da mise en abyme e da metalepse
presentes na narrativa do livro O labirinto do Fauno (2019), de Guillermo Del Toro e
Cornelia Funke. Para alcançar esse propósito, foram estabelecidos dois objetivos
específicos: o primeiro consiste em identificar a presença da mise en abyme e da
metalepse na estrutura narrativa da adaptação, enquanto o segundo busca analisar a
construção de uma estética narrativa labiríntica a partir desses elementos. Em nossa
dissertação, identificamos no corpus a presença da mise en abyme a partir da
reduplicação infinita e diversos tipos de metalepse na narrativa. Nesse intricado jogo de
espelhos, as histórias encaixadas não apenas se entrelaçam com a trama principal,
compartilhando personagens, símbolos e cenários, mas também enriquecem a
experiência de leitura ao acrescentar camadas de significado. Por fim, acreditamos que
este trabalho terá um impacto significativo no campo dos estudos literários,
especialmente no que se refere à estrutura narrativa. As conclusões desta investigação
podem ser utilizadas como base teórica e inspiração para pesquisas futuras, tornando-se
um valioso recurso para a comunidade acadêmica.
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HOSANA GOUVEIA RAMALHO
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A ESTÉTICA LITERÁRIA NA POESIA DE MULHERES SURDAS NORDESTINAS
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Data: 01/12/2023
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Hora: 14:00
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Esta dissertação busca explorar os elementos estéticos presentes na literatura desenvolvida por mulheres surdas da região nordeste. Através de uma abordagem qualitativa e exploratória, analisamos obras literárias selecionadas dessas mulheres em saraus literários nordestinos, centrando-nos nos elementos estéticos propostos por Sutton-Spence (2021). Nosso estudo se aprofunda nos elementos literários, no uso da língua de sinais e na influência da cultura surda em suas expressões artísticas. A pesquisa é de cunho qualitativo e exploratório, tendo como pressuposto teórico metodológico Sutton-Spence (2021) no tocante às produções literárias desenvolvidas no meio das culturas surdas. O corpus é composto por três poesias criadas por artistas paraibanas e que foram apresentadas em saraus literários exibidos online na plataforma Youtube, em referência ao Dia do Nordestino. As obras versam respectivamente sobre a resistência do povo Nordestino; a rotina dos sertanejos em meio a pandemia do covid-19; e a personagem Maria ¬Bonita. Nas análises, identificamos a presença predominante de elementos visuais e imagéticos, a partir de classificadores, personificações, elementos não manuais, metáforas, estruturas espaciais estéticas, perspectivas múltiplas, repetição, ritmo e rima. Esta investigação não apenas amplia nosso entendimento sobre a estética literária das poetisas surdas nordestinas, mas também sublinha a importância de reconhecer e valorizar a confluência da cultura surda e nordestina. Consequentemente, ao divulgar essas descobertas, espera-se promover uma maior visibilidade e apreciação das culturas surdas no contexto nordestino, especialmente das mulheres.
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LETÍCIA SIMÕES VELLOSO SCHULER
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LAÇOS ROMPIDOS, PERDAS RESSIGNIFICADAS: UMA ANÁLISE DOS AFETOS NA PROSA
POÉTICA E NO POESIA EM PROSA DE JOSÉ LUÍS PEIXOTO
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Data: 29/11/2023
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Hora: 14:00
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A presente dissertação busca compreender os afetos e suas possibilidades de
ressignificação na prosa e na poesia de José Luís Peixoto a partir das relações dialógicas
entre literatura, psicanálise e filosofia. Nosso recorte literário se debruça na análise de
Morreste-me (2000), novela que marca a estreia do autor no cenário literário, e A criança
em ruínas (2001), no que tange família, afeto, perda, sofrimento. Para tanto, apresentamos
a compreensão de alguns filósofos de modo a demarcar a mudança que acompanhou o
entendimento do afeto para a filosofia, desde o entendimento do páthos para a
Antiguidade. Em seguida, enveredamos na discussão da teoria sobre o afeto visto sob a
ótica psicanalítica, a partir dos escritos de Freud e Lacan, além de seus comentadores.
Logo, para entendermos as novas formas de elaborar uma poesia e uma prosa, na tentativa
de perceber o grau de subjetividade que pode ser alcançado, enveredamos pelos gêneros
literários da prosa poética e do poema em prosa. De modo a ilustrar a poética centrada
nos afetos nos corpora, estabelecemos aproximações entre uma literatura que se distancia
de delimitações abre espaço para o questionamento da forma, para diferentes formas de
uso da linguagem, se tornando terreno fértil para a percepção das subjetividades e dos
afetos que nelas se imbricam.
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MARIA JÉSSICA SOUSA LIMA
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HIMBA: INFÂNCIAS, VIOLÊNCIAS E RESISTÊNCIAS EM SE O PASSADO NÃO TIVESSE ASAS, DE PEPETELA
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Data: 25/10/2023
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Hora: 14:00
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Se o Passado não Tivesse Asas, romance escrito por Pepetela e publicado em 2016, retrata
dois momentos sóciopolítico e históricos de Angola: os conflitos pelo controle político após a
guerra pela independência no passado e uma fase de crescimento e desenvolvimento
econômico mais contemporânea. Nesse sentido, este trabalho tem o intuito de analisar, por
meio de pesquisas que unem as esferas artísticas, culturais, sociais e econômicas, as relações
entre literatura, representações e identidades com ênfase no protagonismo da personagem
criança e nas inúmeras violências agravadas pelo contexto de duas guerras. Buscamos fazer
uma abordagem sobre a criança como ser proativo, fazendo uma imersão teórica nos estudos
sobre o ser criança no decorrer da história moderna, nos utilizando dos personagens crianças
na obra de Pepetela, como também de outros/as escritores/as africanos/as, contextualizando a
infância em Angola. Além disso, também nos interessa entender como a violência gerada
pelo contexto atinge os personagens, especialmente a protagonista, e como os resquícios da
violência colonialista e sexual aparecem e são explorados pela narrativa. Oferecermos, por
fim, uma visão geral de como a personagem Himba lidou com suas memórias e
esquecimentos, através de conceitos como territorialidade, desterritorialização e identidade.
Todos os fatores analisados seguem nossa visão de que as representações literárias de
experiências fornecem um importante espaço de enunciação e análise de vivências individuais
e coletivas, inscritas na memória singular e social da nação angolana. Para tais objetivos, nos
utilizaremos de autores e autoras como Spivak (2010), Mata (1995, 2010 e 2022), Mbembe
(2018), Fanon (1968), entre outros.
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SORAYA AMARAL DE ARAÚJO
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TERMINOLOGIA, TRADUÇÃO E LINGUÍSTICA DE CÓRPUS: ANÁLISE DE UMA OBRA DE FICÇÃO CIENTÍFICA CYBERPUNK
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Data: 19/10/2023
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Hora: 14:00
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A ficção científica produziu, ao longo dos anos, uma variedade de subgêneros. Nosso córpus de estudo é uma obra do subgênero cyberpunk que tem como enfoque a alta tecnologia e baixa qualidade de vida (high tech, low life). O termo cyberpunk é uma combinação de cibernética e cultura punk, exibindo ambientes de tecnologias avançadas, realidades virtuais alternativas, inteligência artificial e ciberespaço em uma conjuntura social degradada e distópica. Esse contexto se mostrou propício para a observação de fenômenos linguísticos contemporâneos associados a uma maior popularização dos domínios científicos e técnicos e da necessidade de uma comunicação eficaz nas diversas áreas de especialidade que contemple o desenvolvimento de uma terminologia atualizada e de linguagens especializadas criadas para cumprir as várias funções comunicativas de nosso tempo, inclusive na forma como a terminologia empregada é traduzida. Alguns estudos consideram que esse desenvolvimento pode ser extrapolado para o âmbito das narrativas ficcionais em suas formas de expressão artística, particularmente na ficção científica, que apresenta entre suas características o emprego de terminologias provenientes de diferentes áreas de conhecimento, conferindo ao gênero literário veracidade e coerência com o universo do discurso em que se apresenta. O objetivo deste trabalho com um córpus de ficção cientifica cyberpunk é, portanto, utilizar os recursos da Linguística de Córpus para identificar a terminologia utilizada no córpus de estudo de acordo com as relativas áreas de conhecimento e analisar e descrever as modalidades de tradução utilizadas na transposição dessa terminologia como um componente importante para a compreensão desse fenômeno linguístico expresso no texto original em inglês e na tradução para o português brasileiro do romance Altered carbon de Richard Morgan, traduzido por Edmo Suassuna com o título de Carbono alterado. Para isso, exploramos as potencialidades das relações interdisciplinares teórico-metodológicas integradas pelos estudos da Terminologia, Tradução e Linguística de Córpus, buscando fundamentar, identificar, analisar e descrever a terminologia desenvolvida pelo autor nos contextos em que se apresentam, assim como suas traduções e, de alguma forma, contribuir para o interesse e expansão desses temas.
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LEANDRO FERREIRA DOS SANTOS
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AS MURALHAS DE GANESHA: A BEM-AVENTURANÇA DA VIDA ECLODE DOS OCEANOS INFERNAIS DAS SUBJETIVIDADES
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Data: 29/09/2023
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Hora: 14:00
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Submersa na sabedoria do tempo e envolta nos galhos frondosos da cósmica primeva, a cultura hindu tece, em fios mitológicos, a (an)dança do ser pelas terras ignotas da existência, deixando, às escâncaras, as coordenadas de um itinerário arquetípico, marcado por guerrilhas fantasísticas, naufrágios mentais em ilhas paradisíacas, monólogos demoníacos e hospedagens coletivas em leitos luxuriosamente agres. O paradoxo humano, a metáfora da carne, a metonímia da espiritualidade e a sinestesia do universo se espargem por densas paisagens literárias, germinadas num Oriente amplexado à tradição, onde a efabulação arcaica vaticina as verdades sempre esquecidas e jamais silenciadas. Nesse mundo, auspiciosamente comum em termos simbólicos, o mito anima o espírito criador e fornece, ainda, as chaves que abrem (e fecham) as portas que conduzem as almas aos seus desígnios, nem austeros tampouco ínferos, mas, sobretudo, cármicos. O discurso, aqui, interpela, em chamamento, as narrativas protagonizadas pelo Destruidor de Obstáculos, o Senhor dos Exércitos, o mais adorado dos deuses: Lord Ganesha. No copioso panteão védico, a criança-elefante destrona, em adoração e reconhecimento, os deuses primais. Sua origem, diluída em longas narrações, fragmentos e hipérboles, costura, minuciosamente, o tecido em que se desenha o nascimento da subjetividade humana, vista em ângulos privilegiados, que excidem uma diagramação colorida pelas moções eróticas e thanáticas, numa exposição que sustenta e potencializa as descobertas psicanalíticas. As imagens, tingidas pela mí(s)tica, expõe um deus forjado no desejo materno, interceptado pela fúria paterna, cujas ações (inclusive divinas) derivam de sua maestria em brincar, perversamente, com Eros. Nossa pesquisa, numa interlocução entre mito e psicanálise, tenciona, numa escavação arquetipicamente arcaica, vistoriar, nos alfarrábios hindus, a peregrinação de Ganesha, articulando-a com a figurabilidade pulsional característica do complexo de Édipo, o nascedouro do Homem. Como alicerce teórico, abraçaremos os estudos desenvolvidos por Carl Gustav Jung e Melanie Klein.
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VALDEREDO ALVES DA SILVA
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A INOCÊNCIA EM RETALHOS: VIOLAÇÕES DO CORPO NO PROSPECTO LITERÁRIO DE LIMA BARRETO
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Data: 29/09/2023
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Hora: 08:00
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Nos Estudos sobre a histeria, o sexual aparece sob a égide de uma sedução real, de caráter traumático, que, reprimido e, por isso, excessivamente reagente, transforma-se num componente suscetível de irradiar fortes aditivos patogênicos. Nas primeiras empreitadas, Freud ainda não percebia a existência das fantasias e da sexualidade infantil. Ao constatar que as diretrizes da realidade compartilhada inexistem na dinâmica inconsciente e que a explosão histérica era desproporcional ao número de pais supostamente perversos, Freud reelabora a teoria do trauma, assegurando que as cenas de sedução da infância eram, na verdade, cenários fantasmáticoserigidos pela criança para refugiar seu gozo abrupto e brutal. Em que pese o abandono da ocorrência de abuso real, como elemento (des)estruturante da sexualidade, o pai da psicanálise o retoma, nas peregrinações da segunda tópica, dando ênfase aos efeitos devastadores da fragmentação psíquica, decorrente do abuso sexual, vivenciado pela criança, jovem ou adulto. Tal conjectura, doravante, esparge-se nas elucubrações laplancheanas e ferenczianas a respeito da sedução generalizada e das questões traumáticas advindas de experiências reais, respectivamente. Se, como compreendeu Freud (1905), a perversão, em linhas gerais, é uma reconfiguração da sexualidade infantil, regada pela polimorfia perversa,sobrevivente na vida ulterior, o que diferenciará o componente sexual das crianças e o teatro perverso dos adultos é a disposição dos agentes frente às muralhas do corpo e da civilização. No enquadre estruturalmente perverso, a sexualidade, com engrenagens que tocam à realidade, põe em cena um desejo que, nas tramas infantis, era apenas da ordem da fantasia: o elemento pré-sexual é o centro, o norteador, que governa imperiosamente. A montagem perversa, desse modo, decorreria de um impedimento da corrente genial subjugar as demais, devido a uma fixação infantil, que alçaria a corrente pré-genital ao lugar de organizadora da vida sexual. Nessa conjectura, as fantasias pré-genitais são comuns tanto nos perversos quanto nos neuróticos consubstanciando a etiologia dos conflitos entre o desejo e a censura. A desorganização emerge, na perversão, na medida em que as barreiras do recalcamento se encontram em frangalhos, deterioradas pelas fantasmagorias arcaicas que, inócuas às forças agregadoras, saturam a realidade. Ou seja, o perverso, amiúde, recorre às assombrações tirânicas do passado para, a partir delas, obterem a autorização, o acesso retilíneo ao outro. A partir dessas reflexões, a presente pesquisa se debruça sobre o célebre romance Clara dos Anjos (1948), de Lima Barreto, no intento de investigar, numa interlocução entre a estética literária e a psicanálise, as manifestações perversas do antagonista, que culminam numa série de abusos (psicológicos e sexuais) infligidos, na trama, à inocente Clara. As máscaras sedutoras de Cassi Jones atraem a pueril menina que, envolta a artimanhas manipulatórias, enleia-se numa rede de humilhações e lamúrias. Como aporte teórico-metodológico, o estudo ampara -se em manuscritos da ciência psicanalítica a respeito da estrutura perversa, das seduções/abusos sexuais, quais sejam: Bate-se em uma criança (1924), O problema econômico do Masoquismo (1924) e O fetichismo (1927), de Sigmund Freud; O crime sexual (2015), de Jean Laplanche; e Confusão de línguas entre os adultos e a criança (1932), de Sándor Ferenczi.
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ALBA MARIA MONTEIRO SANTOS LESSA
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O LIVRO DE IMAGEM: PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DE PROFESSORAS NO 1º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
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Data: 19/09/2023
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Hora: 14:30
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A presente pesquisa traz como tema o livro de imagens e a mediação realizada
pelas professoras do primeiro 1º do ensino fundamental. Tem como objetivos principais
compreender como as professoras desenvolvem a mediação de leitura do livro de
imagem a partir da experiência em uma escola pública do município de João Pessoa
PB. Nesse sentido, busca investigar como se deu o primeiro contato das docentes com o
livro de imagem, tentando compreender como acontece o desenvolvimento leitor das
crianças em fase de alfabetização. A metodologia é qualitativa e como instrumento para
coleta de dados optamos por fazer uso de entrevistas e de um diário de campo para
observações das práticas desenvolvidas. Inicialmente realizamos pesquisa bibliográfica
buscando fazer um percurso histórico da imagem como sendo importante meio de
comunicação para humanidade, desde os primórdios perpassando pelos avanços
ocorridos ao longo do tempo; conceituamos os vários tipos de letramento com ênfase
para o letramento visual, pontuando a importância do livro de imagem e que elementos
ele traz na contemporaneidade que devem ser explorados no momento da mediação.
Tomamos como base para este estudo os autores: Dondis (2015), Manguel (2001),
Walty; Fonseca; Cury (2006), Oliveira (2008), Faria (2019), Santaella (2012), Silva
(2020) e Linden (2018). Por fim, os dados preliminares das entrevistas apontam que as
formações e discussões sobre o livro de imagem realizadas na escola pesquisada tem
feito com que as professoras mediadoras procurem incluir em sua sala de aula os livros
de imagem, que configuram-se como importante ferramenta no processo de letramento
visual para as crianças em fase de alfabetização.
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ANA CAROLINA DE SENA ROCHA
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ARQUÉTIPOS DE JUNG E RESIDUALIDADE: A REPRESENTAÇÃO DO IDEAL FEMININO NA LÍRICA TROVADORESCA DE MARLY VASCONCELOS
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Data: 31/08/2023
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Hora: 15:00
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Esta dissertação tem como objetivo estudar a obra "Cãtygua Proençal" (1985) de Marly Vasconcelos. Composta por 20 poemas que resgatam gêneros literários medievais, investigamos e classificar a obra da autora em relação aos resíduos medievais presentes nos arquétipos femininos encontrados na estrutura dos poemas. Para isso, faremos um cotejo entre a obra de Vasconcelos e a lírica trovadoresca, buscando compreender como a autora utiliza elementos medievais típicos do Trovadorismo em seus versos. Nossa fundamentação teórica será baseada na Teoria da Residualidade de Roberto Pontes, situando a obra da autora no contexto literário da geração de 1960 no Brasil e na década de 1980 no Ceará, explorando o imaginário medieval abordado pela escritora. Faremos uso dos estudos realizados por DUBY (2011), SPINA (1991), MALEVAL (1992), JUNG (2018, 2020) entre outros. Com uma abordagem comparativa, analisaremos a lírica medieval e suas características, com ênfase em um tema recorrente na poesia de Marly Vasconcelos: a mulher medieval, suas relações afetivas e sociais. Esta dissertação se justifica no âmbito acadêmico por sua relevância nos estudos de literatura e culturais. A análise da obra de Vasconcelos permite explorar as relações entre a literatura medieval e a produção literária contemporânea, além de investigar a presença dos arquétipos femininos no contexto medieval e sua representação na poesia atual.
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GISELY CASTOR DE ANDRADE
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A LONGA IDADE MÉDIA: DE CHRISTINE DE PIZAN A JUANA INÉS.
UM ENCONTRO POSSÍVEL ATRAVÉS DE RESIDUOS UTÓPICOS.
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Data: 30/08/2023
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Hora: 15:00
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O presente estudo tem como objetivo comparar e aproximar as obras "A Cidade das
Damas" de Christine de Pizan e "Resposta a Sor Filotea de la Cruz e Homens
Néscios que acusáis" de Juana Inés de La Cruz. Ambas as autoras abordaram um
pensamento utópico em suas escritas. Mesmo que o termo "utopia" não existisse na
época de Pizan, o sentimento de um "não lugar" estava presente em sua obra, assim
como o desejo por justiça. De acordo com Hilário Franco (2021), esse anseio por um
mundo mais justo é classificado como "Utopia da Justiça". A aproximação entre as
autoras foi alcançada através da teoria da Residualidade de Roberto Pontes (ANO),
que permitiu reconhecer arquétipos reproduzidos nas mentalidades das épocas das
duas escritoras, e do conceito de longa Idade Média de Le Goff (2015), que aponta
que a mudança de um período para outro ocorreu apenas no século XVIII. O
medievalista defende que a própria América se tornou berço para o medievo. Neste
trabalho, observamos uma clara interdisciplinaridade entre história e literatura. De
acordo com Jaume Aurell (2006), a interdisciplinaridade contribui para uma visão
abrangente de um período. O pesquisador recomenda que se ponderem o presente e
o passado, para evitar anacronismos. Através das obras, teorias e conceitos
apresentados, refletimos sobre como o exercício da utopia foi utilizado para ampliar
as representações femininas na história e possibilitou reivindicações impensáveis nos
séculos das autoras. Também reconhecemos resíduos comuns na mentalidade das
sociedades das escritoras e consideramos o impacto que essas mulheres tiveram na
construção de uma sociedade mais igualitária para homens e mulheres.
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MARIVALDO OMENA BATISTA
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Um pacto silencioso com o corpo e com a sexualidade: a poesia de Alice Ruiz na sala de aula
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Data: 24/08/2023
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Hora: 09:00
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O projeto estético de Alice Ruiz apresenta uma abordagem na linguagem que permite a compreensão de um discurso centrado no protagonismo feminino. Dessa forma, seus poemas, haicais, canções e histórias em quadrinhos proporcionam uma percepção da mulher sob a perspectiva do corpo e da sexualidade. Através dessa abordagem, o leitor não apenas apreende as diversas configurações estéticas, mas também compreende a luta das mulheres por espaços na sociedade, os quais costumam ser dominados por homens e por um sistema jurídico predominantemente machista. A partir desse contexto, a proposta desta pesquisa se concentra em uma leitura analítica das escritas de Alice Ruiz a partir da estilística e dos estudos pós-estruturalistas, bem como visa consolidar um fazer metodológico que proporcione uma interação significativa entre os jovens leitores e os textos poéticos em sala de aula. Para assegurar a experiência de leitura literária na escola, abordamos as estratégias de leitura de Girotto e Souza (2012) e a sequência didática de Solé (1998). Quanto ao contexto discursivo dos textos da poeta, são destacadas três categorias teóricas relacionadas ao patriarcalismo: o conceito de poder de Foucault (2014), a violência simbólica de Bourdieu (2021) e as desigualdades de gênero de Butler (2019). No que diz respeito à leitura analítica dos poemas, apropriamo-nos das considerações de Pfeiffer (1966), Cohen (1975), Staiger (1975) e Hegel (1980). As reflexões sobre a Estética da Recepção de Jauss (1979) e (1994), e a Teoria do Efeito Estético de Iser (1996) e (1999) fundamentaram a abordagem teórica sobre a recepção leitora. Foucault (2014) contribuiu para o embasamento analítico das temáticas que discutem o corpo e a sexualidade como formas de poder. O percurso metodológico para o ensino de poesia foi elaborado com base nas quatro (04) categorias da leitura metacognitiva: conhecimento prévio, conexão texto-texto, texto-mundo e texto-leitor, inferência e visualização, o que favoreceu a experiência estética com as escritas da compositora em sala de aula, promovendo a compreensão das discussões em torno da mulher, bem como das nuances estéticas que compõem o texto. Como resultado, os dezenove (19) estudantes do 2º ano do Ensino Médio da Escola Municipal José Sérgio Veras, Sertânia-PE, demonstraram entusiasmo pela poesia de Alice Ruiz, o que contribuiu para o desenvolvimento sensível e humano dos jovens leitores na escola.
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JHENNEFER ALVES MACÊDO
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PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E MEDIAÇÃO LITERÁRIA JUVENIL: AFINAL, O QUE LEEM OS JOVENS DO SÉCULO XXI?
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Data: 23/08/2023
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Hora: 14:00
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A presente pesquisa visa trazer à tona problematizações concernentes à
circulação e à mediação de obras literárias no Ensino Fundamental II, tendo em vista
que, ao realizarmos entrevistas, tanto nãodiretivas, quanto por intermédio de
questionários, com alunos do referente nível educacional, provenientes das redes públicas
e privadas de ensino da cidade de João Pessoa-PB, visualizamos uma lacuna considerável
entre professores, alunos e leituras literárias, já que estão ausentes das salas de aulas (1)
a produção legitimada academicamente, isto é, as obras que recebem os selos de altamente
recomendáveis para os jovens pelos prêmios nacionais, a exemplo dos concedidos pelo
JABUTI e pela FNLIJ promovendo um quase total desconhecimento acerca dessas
seleções e das obras que são indicadas, essas que deveriam ser trazidas, principalmente,
pelos educadores para a sala de aula, bem como (2) as indicações feitas pelos novos
curadores literários digitais chamados de booktubers, e que, de maneira recorrente, são
vistas nas mãos dos adolescentes nos momentos opostos aos das aulas, mas que costumam
receber a classificação de literatura de segunda mão por muitos profissionais da educação.
Sendo assim, a partir desses desencontros de vozes e de leituras, percebemos uma crise
da formação leitora em sala de aula, a que acontece ora pela ausência de livros, fruto da
problemática da não circulação e do desconhecimento a respeito das produções, ora pela
não priorização de uma construção literária, no decorrer do processo formativo, a qual
deveria ser pautada na apresentação das obras selecionadas pela crítica literária, mas também na inserção das produções que são lidas pelos jovens, promovendo, então,
encontros literários e a formação de leitores plurais. Portanto, considerando essas
constatações, a fim de contribuir para o preenchimento dessas lacunas, sobretudo
consoante à mediação, propomos uma pesquisa, de abordagem quantitativa e qualitativa,
que, além de investigar, por intermédio de aproximações com os sujeitos envolvidos nesse
cenário, isto é, professores, alunos e curadores literários, as motivações que estão
contribuindo para esse afastamento das obras literárias do espaço escolar, objetiva
também, por meio da realização de círculos de leitura literária, com alunos de duas escolas
da educação básica, das redes públicas e privadas, desenvolver uma proposta interventiva,
visando analisar as recepções, por parte dos leitores, a respeito dessas obras, sejam elas
premiadas pelo âmbito acadêmico ou best-sellers. Como resultado desse estudo,
evidenciamos que, ao alargar os horizontes das obras literárias, seja no processo de
seleção, de acesso e de execução do processo de leitura e de análise em sala de aula,
ampliam-se as perspectivas leitoras dos nossos alunos e, consequentemente, as nossas
enquanto mediadores, desembocando em uma formação leitora crítica e pluralizada. Para
o desenvolvimento das discussões aqui propostas, em âmbitos teóricos e práticos,
ancoramo-nos nos estudos já desenvolvidos por Chartier (1998); Zilberman (1993);
Abreu (2006); Groppo (2000); Catani (2008); Cardona (2006); Bajour (2012); Oliveira
(2013); Cosson (2014); Souza (2015); Filho (2016); Colomer (2017); Santos (2018), entre
outros.
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JULIANA AZEVEDO DE QUEIROZ
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OS SEGREDOS DO JARDIM NO ROMANCE (1911) E NA ANIMAÇÃO (1994): UM ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO E PERSONAGEM EM O JARDIM SECRETO
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Data: 31/07/2023
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Hora: 14:30
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Este estudo analisa como se dá a relação entre personagens e espaço no romance inglês O Jardim Secreto e em uma adaptação para a televisão, com base nas teorias da inter-midialidade. A transposição midiática é uma forma de intermidialidade que ocorre du-rante este processo de adaptação. No entanto, tanto a autora do romance quanto o diretor do filme animado utilizam recursos relacionados a outras mídias além daquela escolhida como a principal forma de expressão. Procuramos analisar os diferentes modos de mostrar e contar empregados pelos autores por meio de pesquisas sobre intermidialidade, estudos culturais focados na adaptação, teoria do cinema e teoria literária acerca do espaço a fim de compreender como a relevância do espaço na narrativa é abordada nas duas obras, de acordo com o diálogo intermidiático. Buscamos compreender as várias formas em que a intermidialidade pode ocorrer, com a intenção de explorar a relação dos personagens com o espaço nas duas obras, através de suas técnicas e ferramentas específicas, bem como as motivações artísticas por trás dessas ocorrências e como elas afetam a experiência do leitor e do espectador.
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FERNANDA DINIZ FERREIRA
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ENTRE SAGAS, AGRURAS E DUELOS: Uma análise comparativa da bela morte em Guimarães Rosa
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Data: 31/07/2023
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Hora: 14:00
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O presente trabalho de dissertação consiste em analisar, de forma comparativa, os contos A hora e vez de Augusto Matraga, Duelo e Os Irmãos Dagobé, de João Guimarães Rosa. Os dois primeiros contos se encontram em Sagarana, obra de estreia do autor, publicada em 1946. Já o terceiro conto faz parte do livro Primeiras Estórias, publicado em 1962. O cerne da análise é, especificamente, compreender como se configura a morte trágica do personagem moderno em contos de Guimarães Rosa, bem como contribuir para a leitura crítica da relação entre o erro trágico e o destino dos protagonistas. Observa-se que a bela morte, originária da literatura clássica, demonstra permanência e influência na literatura contemporânea. Além disso, objetiva-se identificar, à luz de certas categorias aristotélicas, como o desfecho trágico continua a caracterizar a ação de personagens literários na atualidade, contribuindo, assim, com as pesquisas críticas, ampliando os estudos sobre modernidade e tradição. A metodologia utilizada é de cunho bibliográfico, com a leitura imanente dos contos, com base em concepções teóricas que versam sobre a categoria escolhida ou que tenham alguma relação com ela. Assim, priorizamos os estudos de Jean-Pierre Vernant (1977; 2022), dentre outros que seguem o mesmo viés, tais como: Marques Júnior (2008; 2013), Luna (2012), Campos (2000), que dialogam diretamente com a proposta de análise da presente pesquisa.
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FRANCISCO ROQUE MAGALHAES NETO
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A manifestação do fantástico nos contos A escada, Iluminuras e O pagão, de Natércia Campos
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Data: 31/07/2023
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Hora: 14:00
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O fantástico traz em sua essência um rompimento da realidade cotidiana racional estabelecida. Ainda que tenha alcançado um certo prestígio internacional, em nosso país, essa modalidade ficcional geralmente é posta pela crítica em segundo plano: desde o século XIX, poucos autores conseguiram estabelecer seu nome a partir desse tipo de literatura, enquanto outros caíram no esquecimento para a crítica especializada. Na contemporaneidade, uma dentre esses escritores é a cearense Natércia Campos, que dedicou a maior parte de suas obras à escrita de textos que dialogam com o fantástico, ao criar um universo com fantasmas. Dessa forma, esta dissertação de mestrado objetiva analisar como se constrói o fantástico narrativo dos contos A Escada, O pagão e Iluminuras, presentes na coletânea de contos Iluminuras. Para isso, analisaremos as diversas teorias propostas que tentam definir e apontar os elementos caracterizadores do fantástico, focando-se especialmente nos trabalhos de Tzvetan Todorov (2010), Felipe Furtado (1980) e Remo Ceserani (2006). A partir do corpo teórico analisado, buscamos identificar como a autora cearense criou o efeito fantástico em suas narrativas, seus temas, o papel desempenhado pelos personagens e pelo espaço narrativo. Assim, com os resultados obtidos neste trabalho, apontamos que os elementos fantásticos utilizados nessas narrativas são provenientes da cultura popular interiorana nordestina, criando um espaço narrativo que privilegia o isolamento de um grupo e que, em algumas narrativas, tal isolamento é controlado pela religião oficial, mas atravessado pela religiosidade de expressão popular. Dessa forma, articulando elementos já comumente utilizados em narrativas fantásticas, como fantasmas, locais horripilantes, dentre outros, a autora Natércia Campos cria textos singulares e que se destacam em meio a produção literária fantástica cearense.
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HAMILTON SERGIO NERY DE MEDEIROS
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DEUSA DO AMOR E LEGISLADORA ATENIENSE: O DUPLO PROTAGONISMO DE AFRODITE EM HIPÓLITO, DE EURÍPIDES
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Data: 31/07/2023
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Hora: 14:00
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Eurípides, poeta do século V a.C., nascido em Salamina, foi um dos grandes expoentes
da tragédia grega clássica. O tragediógrafo teve por inspiração seus conflitos pessoais,
eventos militares e o movimento dos sofistas, que marcaram a cidade de Atenas no século
V a.C.. Em suas composições, Eurípides tratou de temas do cotidiano dos atenienses,
gerando neles discussões e reflexões, e.g., a condição das mulheres na sociedade e os
aspectos psicológicos dos indivíduos, em que se destaca os efeitos causados pelo excesso.
Em Hipólito, peça representada inicialmente no ano 428 a.C. durante a guerra do
Peloponeso, o autor apresenta a história do jovem Hipólito, fruto da relação do herói épico
Teseu com a rainha das amazonas. Na trama, o jovem escolhe traçar seu próprio destino
e se afasta dos desígnios divinos e da tradição no que tange as leis do oikos e da pólis.
Hipólito, ao atingir a maioridade, decide permanecer sob os domínios de Ártemis e da
esfera virginal concernente à deusa. Com isto, se afasta do convívio social e recusa a
instituição do casamento, sob a legislação de Afrodite. A deusa, por sua vez, apresentase na trama sob duas faces: benevolente aos que lhe concedem honras, e terrível aos que
lhe desprezam, e atua como legisladora para punir Hipólito por ter se afastado de seus
desígnios. Este trabalho tem por objetivo analisar esse duplo protagonismo que a deusa
exerce na trama de Eurípides, tendo como corpus trechos da peça Hipólito, sendo o
prólogo o principal deles. O trabalho apoia-se em teóricos, como Florenzano (1996),
Romilly (1998), Mossé (2008), nos filósofos Platão e Aristóteles, em fontes literárias,
como Homero e Hesíodo, além de elementos da cultura material, com fotografias de
artefatos gregos encontrado em Taranto (Itália).
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ROBSON LUCENA CARNEIRO
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TRADUÇÃO E COMENTÁRIO DOS LIVROS I E II DA OBRA DE ASTRONOMICA, DE HIGINO
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Data: 31/07/2023
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Hora: 09:00
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O objetivo deste trabalho de dissertação é apresentar uma proposta de tradução
em prosa do latim para o português, acompanhada de comentários, dos dois primeiros
livros que compõem a obra intitulada De Astronomica, de Higino. Do mesmo modo, serão
apresentados alguns estudos acerca do autor e de sua obra, como também um panorama
que envolve os tópicos relacionados à astronomia no mundo antigo, especificamente entre
os povos que habitavam as regiões do Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma. Este tratado,
composto no fim do primeiro século antes de Cristo, discorre sobre questões concernentes
à astronomia e astrologia, sob a ótica dos estudiosos de épocas passadas.
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TAINÁ DE MOURA SANTOS
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O FANTÁSTICO NO ESPELHO: MISE EN ABYME EM MURILO RUBIÃO
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Data: 31/07/2023
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Hora: 08:30
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Um dos elementos identificadores nos contos do escritor brasileiro Murilo Rubião é a presença de epígrafes bíblicas na abertura dos seus textos. Écomum chegar ao fim da leitura de um conto, diante da inexplicabilidade das cenas narradas, e procurar respostas e auxílio nas epígrafes que encabeçam todas as narrativas. Contudo, à primeira vista, elas parecem não se prestar ao papel de esclarecer os sentidos do texto principal. Dessa forma, a presente pesquisa consiste na investigação das epígrafes dos contos de Murilo Rubião enquanto aspecto formal que promovem uma intertextualidade com as narrativas que elas introduzem. Para isso, destaca-se a leitura epigráfica a partir da técnica da miseenabyme(estrutura em abismo), explorada por André Gide (1869-1951) nos últimos decênios do século XIX, e teorizada na década de 70 por Lucien Dällenbach. Na literatura, a miseenabyme adquire noções de obra dentro da obra, de reflexo e espelhamento. A presente análise visa uma melhor compreensão das epígrafes utilizadas nos textos com os próprios textos, permitindo, assim, que se ampliem a compreensão das narrativas. O corpus é composto por cinco contos, todos com a epígrafe pertencente à categoria da ameaça, critérioelencado pelo pesquisador AudemaroTaranto Goulart (1995), a saber:Os comensais, Petúnia, Bárbara, Os dragões e O bloqueio. Para empreender um caminho possível de análise aos textos mencionados, abase metodológica usada privilegia os estudos da miseenabyme de Lucien Dällenbach (1977) e André Gide (1893), além das teorias sobre a epígrafe, de Gérard Genette (1982) Antoine Compagnon (2007), Jorge Schwartz (1981), Audemaro Taranto Goulart (1995), entre outros. Os resultados obtidos na análise do corpus indicaram que, mais do que uma perspectiva formal que cada epígrafe carregaria, essas citações promoveram uma intertextualidade com as narrativas que esclarecem e aprofundaram aspectos dos contos que elas introduzem.
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ROBSON RODRIGUES CLAUDINO
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ENTRE O NILO E A URBS ROMAE: TRADUÇÃO E ANÁLISE DOS EPIGRAMAS LATINOS DE CLÁUDIO CLAUDIANO
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Data: 28/07/2023
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Hora: 14:00
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Os epigramas latinos de Claudiano, escritos entre o final do século IV e início
do V E.C. compreendem uma miscelânia de poemas pertencentes ao gênero epigramático,
compostos em dísticos elegíacos e hexâmetros datílicos, ricos em temáticas e de tamanhos
variados. Por muito tempo, esses textos serviram como fontes pelas quais os
pesquisadores tentaram acessar o mundo de Claudiano, servindo, assim, como material
histórico e tendo o seu valor enquanto literatura ignorado. Apesar de ser uma coletânea
bastante diversificada, esses carmes, assim como a maioria dos poemas de Claudiano,
ainda não apresentam estudos e traduções em língua portuguesa, e isso se dá graças a falta
de interesse pela literatura da Antiguidade Tardia, que é vista como inferior e decadente.
Com isso, a presente dissertação tem como objetivo principal realizar uma tradução em
versos livres e uma análise dos epigramas latinos seculares de Claudiano. Dividido em
três partes, o trabalho traz uma contextualização acerca das transformações pelas quais
passaram o Império Romano e a literatura latina, sobretudo a poesia no capítulo I; a
história do gênero epigramático desde a Grécia até a Antiguidade Tardia romana é traçada
no capítulo II, que ainda consta com seções sobre os epigramas de Claudiano, enquanto
o capítulo III e último apresenta os textos originais, tomados à edição de Hall (1985),
acompanhados de suas traduções e de suas análises. A reflexão a respeito da prática de
tradução se baseia nas teorias de Jakobson (1995), Mounin (1975) e Yebra (1994),
enquanto as análises se apoiam nos trabalhos de Cândido (2006), Gonçalves (2021),
Peruzzo (2021) e Prontera (2021).
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JOSÉ VELOSO DE ARAÚJO SOBRINHO NETO
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SEMIÓTICA DAS CULTURAS E OS AUTOCRATAS DA SOLIDÃO: a formação da identidade latino-americana e as estratégias de poder no romance Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez
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Data: 28/07/2023
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Hora: 10:00
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A pesquisa buscou investigar, na obraCem anos de solidão(2010), do escritor colombiano Gabriel García Márquez, a relação entre as estratégias depoder (manipulação, sujeição) imanentes às escolhas enunciativas e a formação daidentidade do povo latino-americano. O interesse em analisar o romance decorre da riqueza polissêmica do enredo que congrega mito e história em uma trama focada na genealogia de uma família amaldiçoada pela solidão congênita.Assim, o narrador parte do particular, a trajetória da estirpe dos Buendía, para expor,através de uma grande metáfora, o universal, a conjectura política, econômica e social da formação da América Latina. Optamos pelas categorias analíticas do poder e daidentidade por crermos que as estratégias de controle dos corpos e das populações exerceram influência fundamental sobre a formação da feição social e política latino-americana. Assim, a base metodológica usada privilegia a fundamentação teórica da Semiótica das Culturas, desenvolvida por
François Rastier, e no intuito de situar a categoria analítica do poder, contamos com os
estudos do professor, sociólogo e historiador Michel Foucault. No corpo do trabalho,
tentamos, incialmente, demonstrar as convergências de diferentes correntes teóricas. Em um segundo momento, apropriando-nos desse conhecimento, procuramos desnudar, demonstrar, no enunciado do texto, as estratégias do poder e as redes simbólicas que influenciaram, melhor, forjaram, a cultura e a identidade do povo latino-americano. Os resultados obtidos na análise do corpus indicaram que os signos linguísticos ou não têm o poder de moldar, de regular, de sujeitar indivíduos, mas também de estabilizar, de controlar, de constranger, os processos internos (no sujeito) e externos (no povo) de rupturas; mas são, em sentido inverso, a maior ameaça ao poder instaurado. Afinal, o homem passa da natureza à cultura, do mito à história em razão da linguagem, é de se pressupor que saia da cultura e da história para o cataclismo e o fim por ação dela.
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ALINE DE FÁTIMA DA SILVA ARAÚJO FRUTUOSO
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A VERBO-VISUALIDADENO CONTO A LENDA DA COBRA GRANDE: ADAPTAÇÃO E TRADUÇÃO
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Data: 27/07/2023
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Hora: 10:00
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A presente dissertaçãoapresentaaanálise de sentido nasobrasliterárias produzidas pela comunidade surda,norteada pela categoria teórica da verbo-visualidade à luz dos preceitos de Bakhtin.O objetivo geral deste estudo foiidentificar a produção de sentidos nas obras verbo-visuais:Lenda da Cobra Grande(tradução de2013) eA Cobra Grande (adaptação de2016).Osobjetivos específicos foram:verificar nas obras a presença da verbo-visualidade e de elementos relacionados à cultura surda;demonstrar como é feita a expressão de sentidos nos elementos que compõe cada obra (ilustrações, o verbal em Português e Libras escrita e sinalizada);observar as relações históricos-culturais e como dialogam na atribuição dos sentidos;descrever as semelhanças e diferenças na produção de sentidos entre a tradução de Lenda da Cobra Grande e a adaptação de A Cobra Grande.Opercurso metodológicofoi de cunho qualitativo,com uma pesquisa exploratória e documental.O corpusanalisado foicomposto por textos verbo-visuais no viés da tradução e demais produções literárias.Como técnica de análise, tratamosda análise de sentido nos textos verbo-visuais partindo dos pares e trios de páginas,inferindoalgumas categorias de Bakthin como autoria,ideologia,heterodiscurso, significação e tema.Nos resultados,constatamos a presença dos elementos diálogicos por meio do discurso existente,e ideológicos,por percebermos os posicionamentos valorativos e axiólogicos dos personagens baseados no contexto sócio-histórico.Assim como, a presença da autoriaenquanto autor pessoa e autor criador estãodescritos através do personagem por perceber a necessidade de se aprender a língua de sinais,de estar inserido na comunidade surda, além do que a comunidade índigena reunir-se para proteger suas crianças e a presença de suas crenças.E as vozes, por meio do heterodiscurso,por enxergamos a presença da voz da comunidade surda e amazonense presente nas obras.Essas vozes evocam a produção de sentidos e significados imersos no universo da cultura surda e amazonense.
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JACQUELINE VERÍSSIMO FERREIRA DA SILVA
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UM ESTUDO SEMIÓTICO SOBRE O SLAM EM LIBRAS: UMA NOVA MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL
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Data: 24/07/2023
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Hora: 14:00
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Com as crescentes manifestações artístico-culturais da comunidade surda, surge-se a demanda
de ampliação de pesquisas acadêmicas destinada às análises dos discursos das pessoas surdas,
e tratando-se de produções culturais do slam sinalizado foi percebido que a necessidade é
ainda maior. O slam sinalizado é uma produção cultural mais recente, e que apresenta temas
com problemáticas sociais contemporâneas, que envolvem o povo surdo e que apresenta
escassez de estudos voltados para análise do discurso, especificamente tomando como base a
semiótica greimasiana. Dispondo como o objetivo analisar semioticamente o processo de
produção de slam em Libras, tendo como material artístico as produções do grupo Slam do
Corpo. E tendo como etapas para realização dessa pesquisa, os objetivos específicos: A
identificação do papel do poeta surdo, do tradutor e do tradutor-poeta ouvinte nessas
produções literárias; A categorização temática das produções poéticas da comunidade surda
brasileira registrada em eventos do slam sinalizado no Brasil e; Analisar três (3) textos
poéticos produzidos pelo grupo Slam do Corpo com base na Semiótica Greimasiana e
Semiótica das culturas. Para delinear metodologicamente cada etapa proposta foi escolhida
uma abordagem qualitativa, visando destacar as características subjetivas das obras poéticas,
tomando como base a pesquisa etnometodológica. As análises das obras depreende-se de
elementos verbais e não verbais contidos nelas abarcam elementos culturais do povo surdo,
com a perspectiva de destacar fatores determinantes para identificação de perspectivas sociais
divergentes, entre os surdos e ouvintes. Apesar de trazer duas línguas diferentes nas suas
apresentações, o Slam do Corpo consegue usá-las de forma que haja uma unicidade
linguística e corpórea entre elas. E analisando exclusivamente os textos apresentados,
observa-se que trazem uma perspectiva diferente, pois as questões externas e internas que as
constituem trazem perspectivas sociais divergentes da comunidade surda e da ouvinte. Para
subsidiar essa pesquisa os autores a embasam são: Fiorin, Barros, Batista, Strobel, Peixoto,
Machado e Sutton Spence, Pais.
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JOSÉ PAULO ALEXANDRE DE BARROS JÚNIOR
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POLÍTICAS PÚBLICAS DE LEITURA E A CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA DO MUNDO REPRESENTADO: O DIREITO À LITERATURA INDÍGENA NO PNLD LITERÁRIO
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Data: 24/07/2023
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Hora: 14:00
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A presente dissertação buscou analisar o regime de representação simbólico dos povos indígenas nas políticas e diretrizes de Estado que fundamentaram os rumos dos programas do livro no Brasil, até a constituição do Programa Nacional do Livro Didático Literário (PNLD Literário) dos últimos anos, considerando os governos Temer e Bolsonaro. A hipótese delineada na construção dessa pesquisa, parte do pressuposto de que as políticas culturais de fomento à leitura dispõem de um aparato institucional que influencia e controla diretamente o nosso Circuito Cultural, local onde as alteridades indígenas são construídas, estruturadas e cartografadas para o mundo que nos é representado. Compreendemos aqui que dada a força motriz e educadora do Movimento Indígena Brasileiro por meio da Literatura Indígena Contemporânea, há nesse espaço uma disputa simbólica pelo mundo representado. Essa disputa é constituída pela insurgência dos povos originários ao fundar esse movimento estético que dialoga com o respeito às suas soberanias ancestrais, identitárias e epistemológicas, além de demarcar uma contraposição ao imperialismo que hegemonicamente vem constituindo um regime racializado de representação, utilizado como argumento para o etnocídio histórico que dizimou diversas comunidades e culturas indígenas. Como guardião das forças constitucionais que determinam a proteção da organização social e tradições indígenas, caberia ao Estado brasileiro defender e promover o direito intelectual e autoral desses povos como uma questão inerente à garantia do que está imposto pela Carta Magna de 1988. Na expectativa de compreender se esse direito está sendo efetivado por meio das políticas brasileiras, enquadramos nosso processo metodológico na tipologia da pesquisa documental, considerando como documentos o aparato institucional composto por leis, decretos, normativas, portarias e manuais expedidos pelo Estado brasileiro, voltado para a difusão e implementação das políticas públicas voltadas para a leitura literária no país por meio dos programas do livro entre os anos 1937 e 2023 . Nesse sentido, o trabalho documental é amparado teoricamente pelas perspectivas de Hall (2016), Smith (2018), Amaral e Souto (2022), Danner et al. (2018, 2020, 2022), entre outros. Na caminhada pela busca dos objetivos propostos, os resultados nos direcionam à compreensão da dinâmica representacional constituída por essas políticas: 1) O imperialismo encontra nas políticas culturais da leitura no Brasil um espaço de excelência para constituição do seu domínio simbólico, tendo em vista a fragilidade dos programas de Estado em suas constantes descontinuações e rupturas, que buscaram atender demandas de agendas internacionais em detrimento da formação emancipatória da nação brasileira; 2) Uma vez engendrado nas políticas culturais do Estado brasileiro, nota-se o caráter interventor do imperialismo na fabricação de subjetividades homogêneas que atendam seu modelo ideal de sociedade, baseado na castração e no extermínio simbólico dos povos originários; 3) Essa lógica aproxima o Estado brasileiro de políticas da censura típicas de contextos autoritários, o que reforça a necessidade de fortalecimento de nossas políticas culturais voltadas para a leitura literária, de modo que os atuais programas do livro resguardem o direito à valorização cultural do Brasil, o que inclui o Direito à Literatura indígena como uma necessidade humana de formação do povo brasileiro.
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LUCILENE MARIA DA CONCEIÇÃO SANTOS
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A FORMAÇÃO DE LEITORES NA ESCOLA: PROJETO LÚCIA GIOVANNA NO MUNDO DA LITERATURA INFANTIL
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Data: 21/07/2023
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Hora: 14:00
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O tema dessa dissertação de mestrado discorre sobre a leitura de literatura na escola e a
formação de leitores, a partir da análise do projeto denominado Lúcia Giovanna no
Mundo da Literatura Infantil. Tem como principais objetivos refletir acerca da leitura
literária e verificar como um projeto de leitura pode contribuir para aproximar alunos dos
livros e formar leitores; ainda, busca compreender qual a importância de formar leitores
literários e qual o papel da professora nesse processo. Nessa direção, a investigação
destaca a importância da literatura na perspectiva de formar o futuro leitor e fomentar a
aprendizagem significativa nos anos iniciais do ensino fundamental. Para realização deste
estudo, utilizamos como metodologia principal a pesquisa qualitativa, com a observação
do contexto da prática do projeto de leitura, bem como as práticas desenvolvidas na
escola. Além disso, realizamos pesquisa bibliográfica, centrada em autores como:
Colomer (2007), Barbosa (2008), Oliveira (2014), Hernandez (1998), Caser (2015),
Zilberman (2008), Freire (2008), Santos e Souza (2004), Solé (1998), Soares (2005),
Cosson (2021). Tomando-se como base o letramento literário e a formação de leitores,
foram observados o trabalho desenvolvido por meio de projetos de leitura na escola EM
Profa. Lúcia Giovanna Duarte de Melo, buscando-se verificar e analisar como a literatura
infantil era utilizada nas turmas de educação infantil e de ensino fundamenta II. Os
resultados mostraram que a escola oferece meios para a formação do leitor, através de um
trabalho com momentos de contação de histórias e leitura de de literatura, entretanto, há
que se investir na formação inicial e continuada das professoras, no sentido de que possam
compreender e utilizar o letramento literário na sala de aula para a constituição de uma
comunidade de leitores ativos e autônomos. Percebemos, ainda, por meio das análises e
das reflexões realizadas, entre outros aspectos, que a formação de leitores literários não é uma tarefa fácil, porém é possível; constatamos também que práticas tradicionais de
leitura podem e devem ser deixadas de lado, com o auxílio de projetos estruturados, com
objetivos claros e sem imposição ou obrigatoriedade, cabendo à professora atuar como
incentivadora e mediadora, pois somente assim conseguimos contribuir para que a leitura
faça parte da vida das nossas crianças e jovens.
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IRAKITAN BERNARDINO DOS SANTOS
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LITERATURA DE CORDEL EM LIBRAS: semiótica e transcodificação
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Data: 21/07/2023
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Hora: 10:00
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O trabalho utilizou-se de estudos semióticos para analisar folhetos de cordel, elaborados
ou adaptados para Libras por pessoas surdas, e oportunizou entender a transculturação
ocorrida na passagem entre as duas culturas: a ouvinte e a surda, considerando não
apenas o percurso da significação, como as marcações prosódicas, rimas e
possibilidades de sentidos da língua de sinais. Considera os caminhos definidos pela
semiótica greimasiana e os elementos necessários para a construção dessa literatura,
bem como, as influências recebidas das literaturas orais. O corpus foi constituído de
dois textos literários, sendo um texto em Libras, de autor surdo, e o outro em Língua
Portuguesa, de autor ouvinte, transcodificado para Libras. Greimas (1977) Batista
(1999) foram os teóricos utilizados para fazer a análise do percurso de sentido do texto
enquanto Pais (1993) e Rastier (2005) serviram para estabelecer a discussão sobre seus
aspectos culturais. Além disso, estudamos outros autores, como: Quadros (2007);
Marcuschi (2008) que falam do gênero como uma categoria da cultura; um esquema
cognitivo; uma forma de ação social; uma ação retórica; uma estrutura textual; Silva
(2007) que procura incluir o ritmo e a metrificação do cordel; Tavares (1991, apud
Silva-2007) que fazem referência à identidade ou semelhança de sons no final ou no
interior dos versos; Heinzelmann (2015) que apresenta uma definição para literatura
surda; Brito (1995) que cita a existência de algo expressivo na construção do cordel em
Libras; Leite (2009) que se refere à relação de oralidade e (corp) oralidade; Leite (2008)
que estuda as marcações prosódicas na Libras. A metodologia adotada foi qualitativa e
descritiva. E os resultados obtidos direcionam para a ausência da estrutura do cordel em
Libras.
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JADE MARIAM VACCARI CARVALHO SILVA
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A MERCANTILIZAÇÃO DOS CORPOS TRANS EM SE EU FOSSE PURA , DE AMORA MOIRA
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Data: 21/07/2023
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Hora: 09:30
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Se eu fosse pura (2018) é o título da segunda edição da obra Se eu fosse puta, de Amara Moira. A obra em estudo consta de 44 subdivisões em prosa, e alguns poemas, que narra a história da autora, travesti ativista e professora doutora em Literatura pela Unicamp. Sendo assim, este trabalho tem o intuito de investigar a obra da autora em relação ao tema da Mercantilização dos Corpos Trans. Para isto, partiremos de uma análise que visa relacionar a obra aos Estudos de Gênero, na área de Literatura. Dessa maneria, tem-se a necessidade de Citar a própria autora, que também é crítica literária, para analisar a sua obra. Em nossa fundamentação teórica, temos em conta o quase ineditismo da pesquisa (tendo em vista que só há uma dissertação na área de Teoria Literária sobre a obra analisada), imediatamente isso nos aponta uma preocupação: pretendemos criar um texto de referência ao falar da literatura de Autoria Trans, um tema pouco discutido na área de Literatura. Tendo em vista que a Crítica Feminista, entre outros estudos, não pensaram a Autoria Trans em seu recorte tão específico, utilizamos teorias dos Estudos Culturais e de Gênero, a exemplo da teoria Queer evidenciada pela filósofa Judith Butler e por pesquisadoras transfeministas como KAAS (2015), Vergueiro (2014), etc. A pesquisa traz como referências pesquisadores da Teoria Literária que têm desenvolvido pesquisas sobre autoria feminina, como também sobre personagens travestis na literatura e a representatividade da Autoria Trans no Brasil, como ALÓS (2021), SILVESTRE (2021), MARTINS (2020), DALCASTAGNÈ, entre outros.
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WELLINGTON PEREIRA DA SILVA
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Vozes desviadas: as dissidências sexuais em propostas de intervenção no ensino de literatura do Profletras
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Data: 20/07/2023
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Hora: 09:00
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O processo educativo pode ser doloroso, sobretudo quando práticas de violência são naturalizadas pelo regime da heteronormatividade e instituídas sobre aqueles que não correspondem a esta norma. Diante de tal conjuntura, as aulas de literatura podem oferecer espaços para práticas contranormalizadoras, especialmente quando os professores exploram as dissidências sexuais e de gênero presentes em obras literárias. Para investigar aspectos constituintes dessas abordagens, o Mestrado Profissional em Letras (Profletras) é uma base de pesquisa relevante, pois nos trabalhos de conclusão do programa os professores-mestrandos apresentam propostas de intervenção no ensino de literatura e o resultado de suas práticas. Nesta dissertação, procura-se responder: Como as propostas de intervenção no ensino de literatura do Profletras abordam as dissidências sexuais e de gênero? O objetivo é identificar, descrever e avaliar as propostas de intervenção do Profletras no ensino de literatura que tratam das dissidências sexuais e de gênero. A revisão da literatura contempla o Profletras, com Fairchild (2017), Santos (2020); a relação literatura e educação, a partir de Souza (2014), Antunes (2015), Cosson (2020); e a teoria Queer, com Miskolci (2020), Louro (2020), Butler (2019), Preciado (2011), entre outros autores. O estudo se insere na abordagem metodológica da pesquisa qualitativa de cunho documental e explanatório. No levantamento dos dados, identificou-se que, entre os trabalhos de conclusão disponíveis nos repositórios das 42 instituições de ensino superior associadas ao Profletras, as intervenções no ensino da literatura tratando de dissidências sexuais e de gênero ainda é quantitativamente restrito. No entanto, há duas propostas de intervenção que abordam com destaque essa temática: Corpos estranhos: Fiando e desfiando o texto literário na sala de aula (2016), de Cléria Santana de Souza, e As questões de gênero e sexualidade em obras de literatura juvenil: contribuições para a formação leitora no ensino fundamental (2019), de Gilvânia Morais da Silva Almeida. A conclusão é que essas duas propostas evidenciam a preocupação com o respeito às diferenças em contextos de ensino, mas enfrentam dificuldades para efetivar o letramento literário na escola, assim como a própria discussão das dissidências sexuais e de gênero.
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CAROLAINE MARINHO DA SILVA
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BNCC E TEORIA DO EFEITO ESTÉTICO ARTICULADA À TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE LEITURAS LITERÁRIAS
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Data: 19/07/2023
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Hora: 14:00
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A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prioriza a formação de leitores-fruidores. Para isso, os docentes precisam de fundamentos teóricos e metodológicos. A fim de auxiliar a atuação docente, é mister pensar nas possíveis contribuições da Teoria do Efeito Estético (TEE) articulada à Teoria Histórico-Cultural (THC) conforme Santos (2007; 2009) para o desenvolvimento de competências literárias propostas pela BNCC no âmbito do Ensino Fundamental (Anos Finais) e Ensino Médio. A partir disso, levanta-se a seguinte questão: a TEE articulada à THC conforme Santos (2007; 2009) pode contribuir para o desenvolvimento das competências contidas no campo artístico-literário da BNCC? A nossa hipótese é que tal articulação pode oferecer subsídios para o trabalho com a literatura em sala de aula, pois é capaz de basear o mapeamento da experiência estética dos leitores (MAPEE) e a aplicação do Roteiro Didático Metaprocedimental (RDM). O objetivo geral deste trabalho é verificar a viabilidade da articulação entre a TEE e a THC no ensino de leituras literárias conforme a BNCC preconiza. Para tanto, os objetivos específicos são: examinar os pressupostos da BNCC, especialmente no que tange ao ensino de literatura; discutir teoricamente a TEE articulada à THC conforme Santos (2007; 2009) e suas possíveis contribuições para o ensino de leitura literária em contexto escolar; apresentar uma proposta de ensino de leituras literárias para o 9º ano do Ensino Fundamental com base na TEE articulada à THC e nas orientações presentes na BNCC. A abordagem metodológica será qualitativa, com a utilização de pesquisa exploratória e bibliográfica. Os principais aportes teóricos serão: Santos (2007; 2009; 2014), Iser (1996), Bezerra (2021), Santos e Costa (2020).
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YAGO VIEGAS DA SILVA
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O EROTISMO NA CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM VOZES GUARDADAS, DE ELISA LUCINDA
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Data: 18/07/2023
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Hora: 17:30
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A poesia contemporânea brasileira é diversificada, plural e oferece a oportunidade da manifestação a indivíduos que foram silenciados pelos meios de opressão, a exemplo dos corpos negros. Quando se fala em poesia de autoria negra e feminina no Brasil, é na contemporaneidade que se encontra uma expoente produção poética e é nesse contexto que Elisa Lucinda, poeta capixaba, e sua antologia Vozes Guardadas (2016), uma coletânea de poemas produzidos pela autora entre 2005 e 2016 e publicada pela Editora Record. Nessa obra, o erotismo se apresenta como um recurso vital para a constituição da subjetividade e da identidade da mulher negra (tanto do ponto de vista do texto quanto da autoria negra feminina), de forma que podemos concebê-lo como uma força geradora que oferece a esses corpos femininos subjugados e objetificados a possibilidade da libertação, do vozeamento e a construção de uma política que valorize a experiência com o corpo e com a memória. Assim, o objetivo principal desta pesquisa é refletir sobre o erotismo como elemento constitutivo da identidade na obra de Elisa Lucinda. Nosso corpus de análise é composto pela seção Livro do Desejo, que compõe a segunda parte da antologia e na qual é possível perceber o erotismo como um tema recorrente, seja através da valorização da experiência corporal na elaboração dos sentidos ou através da rememoração, como uma maneira de reviver o prazer através da experiência guardada na memória. Nossa pesquisa se ampara nas reflexões de Lorde (2021), Dussel (2016), Saffioti (2019), Bataille (2021), Cuti (2010), Hooks (2010), Siscar (2016; 2010), Evaristo (2005), entre outros.
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MYRNA ANDREZA DA SILVA ALVES
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O IMPACTO DO GÊNERO FANFICTION NO LETRAMENTO DIGITAL
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Data: 17/07/2023
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Hora: 14:00
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Com o desenvolvimento tecnológico, o ser humano altera, constrói e reconstrói as formas de interação entre os seus iguais pelo mundo afora. Neste cenário, a escrita e a leitura, aos poucos, também se adequam aos novos tempos, a exemplo das produções de fãs conhecidas por fanfictions. Grosso modo, a fanfic é uma produção que nasce a partir de uma obra preexistente, isto é, referida como original. Por exemplo: um leitor que se torna muito fã de um romance (ou leitores que não se satisfazem com o desfecho de alguma obra) pode escrever uma história pegando emprestados alguns personagens (ou todos) da obra preexistente, e, assim, dar novos rumos à trama inicial. Disponibilizada na internet, a criação do fã pode gerar, portanto, uma rede em massa de leitores e criadores de conteúdos como ocorreu com as produções baseadas na saga Harry Potter. Ao longo do desenvolvimento do estudo, percebemos que há, neste universo da pesquisa, muito mais perguntas do que resposta; o que pode ser interessante, pois, a nosso ver, deixa evidente o caráter inovador de um tema que se atualiza cada vez mais. Portanto, trata-se de um trabalho que nos desafiou em diversos pontos, a exemplo da discussão que gira em torno da legalidade da fanfic, as polêmicas sobre direitos autorais; entre outros. Nesta perspectiva, acreditamos que a contribuição desta pesquisa à área das letras e afins está, dentre outros fatores, na tentativa de compreendermos o fenômeno que se tornou esse tipo de produção de fãs e o consumo em massa desse conteúdo por partes dos leitores; bem como para refletirmos o lugar da fanfic no rol literário, e, portanto, na fomentação à leitura, sem esquecermo-nos da contribuição inicial que nosso estudo pode proporcionar para novas pesquisas. Assim sendo, o estudo encontra- se organizado em três capítulos: no primeiro, destaca-se uma contextualização acerca do surgimento e da evolução da fanfic, buscando responder indagações como o que é e por que; o segundo dá-se por meio de uma investigação sobre letramento digital e suas especificidades e no terceiro capítulo são analisadas as plataformas e fics mais populares, bem como a importância da produção de fãs na cultura do letramento digital. Para discorrermos acerca das fanfictions como prática de letramento digital, e acerca do retrato de leitura, nos valemos do método de uma pesquisa bibliográfica. Neste caso, a problemática centra-se no uso das fanfictions como
ferramenta de letramento digital para o retrato de leitura na atualidade. Assim sendo, acreditamos que esta pesquisa torna-se válida, dentre outras questões, por trazer ao centro da discussão uma temática atual, e, portanto, necessária à compreensão das ferramentas de leitura e escrita contemporâneas. Por fim, para elaboração, problematização e reflexão das questões aqui elencadas, recorremos às contribuições teóricas das áreas tecnológicas, literárias e afins, a exemplo de LÉVY (2000), CANDIDO (2006), CHARTIER (2002), JAMISON (2017), MEDEIROS (2019), entre outros.
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JOÃO PAULO ROCHA
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Quem conta um conto aumenta um ponto e quem canta um canto aumenta quanto? Um estudo das variações lexicais em romances e cantigas tradicionais na obra Cantos Populares do Brasil (1897), de Sílvio Romero
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Data: 17/07/2023
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Hora: 09:00
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A proposta deste trabalho consiste em investigar a construção da identidade nordestina a partir da literatura popular, notadamente, em romances e cantigas contidos na obra Cantos Populares do Brasil (1897), de Sílvio Romero. Para isso, analisamos o léxico, contextualizando sob uma perspectiva geográfica, social e cultural, a fim de entender os aspectos semânticos e artísticos contidos na Literatura Popular, confirmando nossa hipótese de que a variação do léxico empregada na Literatura Popular aproxima o povo de sua cultura e que o léxico revela marcas de um discurso próprio. Como resultado, elaboramos um glossário da linguagem regional popular a partir de um estudo linguístico, com base nas Ciências do Léxico - Lexicologia e Lexicografia -, Sociolinguística e Etnolinguística, voltado para a descrição dos aspectos semânticos em 42 poemas populares resgatados por Romero (1897) na região Nordeste do Brasil, na segunda metade do século XIX. O glossário é composto por 147 lexias, ou seja, palavras e expressões regionais tratadas como registros de fala pertencentes ao cotidiano do povo nordestino, sendo elas dicionarizadas ou não, classificadas em arcaísmos, corruptelas e lexias de uso corrente contidas na obra supracitada e que ainda fazem parte do processo comunicativo da região.
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MARIA EDUARDA CESAR DE OLIVEIRA
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"Os traços autobiográficos na poesia lírica de Marcos Siscar"
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Data: 10/07/2023
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Hora: 14:00
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O presente trabalho tem como objetivo analisar a manifestação dos traços otobiográficos nas obras poéticas de Marcos Siscar. Reconhecemos esses traços na lírica de Siscar, por meio de uma comparação crítica do escritor brasileiro, que se baseia nos pressupostos de Jacques Derrida. Nossa pesquisa se concentra na análise otobiográfica através da investigação da presença dos quase-conceitos "nome próprio" e "assinatura", que, para Derrida, são elementos constituintes da otobiografia. Encontramos essa discussão derridiana em obras como Otobiographies (1985), Margens da Filosofia (1991) e Paixões (1995). Selecionamos essas obras porque são nelas que o crítico Siscar desenvolve sua interpretação sobre a otobiografia, como evidenciado nos ensaios "Paixão ingrata" (2012) e "Como dar razão a Jean Genet" (2012). Dessa forma, investigamos a presença do "nome próprio" nos poemas "Sabia?", "Galo" e "A Picture with a tear and perhaps a smile". Além disso, examinamos o conceito de "assinatura" nos poemas "São Paulo 1972" e "Cuspindo contra o vento". Dessa forma, apresentamos, inicialmente, a leitura crítica de Siscar sobre a otobiografia e, em seguida, verificamos como esses quase-conceitos estão presentes nos textos líricos.
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KESSIA KELLE FLOR DE LIMA
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A recepção inicial de Poemas (1947), de Joaquim Cardozo, no Diário de Pernambuco
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Data: 07/07/2023
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Hora: 10:00
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O presente trabalho busca analisar quatro críticas literárias publicadas no Diário de Pernambuco sobre Poemas na década de 40, primeiro livro do poeta Joaquim Cardozo, com o intuito de demonstrar o impacto na recepção da obra desse autor na região pernambucana. Assim, o objetivo da pesquisa foi discutir de que forma a crítica literária sobre Poemas de Joaquim Cardozo, publicada no Diário de Pernambuco, foi relevante para os estudos de sua obra lírica. A metodologia utilizada constitui-se em uma pesquisa bibliográfica, com uma abordagem qualitativa. O método crítico adotado para essa pesquisa foi o historiográfico, no entanto, foi necessário também rastrear as questões inerentes à crítica literária. Na análise do corpus percebemos que duas linhas imperavam na crítica literária sobre o autor neste periódico: 1. a relação do poeta pernambucano com a sua região; 2. a geografia humana, expressão que aponta para as reflexões sobre as problemáticas humanas universais. A fim de atingir o objetivo traçado, realizamos uma revisão teórica-crítica a partir de Drummond (1947), Souza Barros (1975), Lima (1949), Freyre (1980), e Nascimento (1968), com o intuito de investigar a contextualização histórica, social e cultural da região, e traçar um percurso de como os estudos em periódicos tornam-se pertinentes para consagração do poeta.
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REBECCA LUIZA DE FIGUEIREDO LÔBO
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Memória traumática em Amada, de Toni Morrison: interface comparativa entre texto e leitor
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Data: 05/07/2023
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Hora: 09:00
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A presente dissertação investiga, à luz de conceitos da Teoria do Efeito-Estético e da articulação proposta por Carmen Sevilla Santos (2009) com a teoria histórico-cultural, a recriação estética da memória traumática afroamericana na minha interação com o romance Beloved, de Toni Morrison (em português: Amada). O método da pesquisa possui cunho metacognitivo e metaprocedimental, tendo em vista que investigo meus próprios processos cognitivos durante a experiência de leitura e os procedimentos envolvidos nessa atividade, através de um mapeamento. Durante esse processo, observo a possibilidade de estabelecer uma analogia entre certos vazios, quebras da good continuation e loopings vivenciados durante minha leitura e a experiência traumática tematizada pelo romance. Com isso, contribuo para a difusão de uma teoria ainda pouco explorada pelos estudos literários brasileiros, cuja aplicação possui potencial para alargar a reflexão a respeito de questionamentos pertinentes a esse campo de conhecimento e aos estudos culturais, a exemplo de: 1) Até que ponto o efeito provocado pelas rupturas e quebras criativas dos usos familiares da linguagem, presentes nesse romance, nos possibilitam negociar com a alteridade? 2) Qual seria o papel da literatura na elaboração ou reafirmação de um trauma coletivo? 3) Quais os potenciais e as limitações da experiência estética com literatura afro-americana nessa elaboração?
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ANA PAULA SERAFIM MARQUES DA SILVA
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PAGINAS INFANTIS (1908), DE PRESCILIANA DUARTE DE ALMEIDA: A OBRA, A CIRCULAÇÃO E OS VALORES ESTÉTICOS
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Data: 29/06/2023
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Hora: 14:00
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Nesta pesquisa, estuda-se a obra Paginas infantis (1908), que chegou a ter cinco edições (1908, 1910, 1914, 1923 e 1934), da poetisa mineira Presciliana Duarte de Almeida (1867-1944). Num primeiro momento, volta-se para as concepções de poesia infantil que circulavam no final do século XIX e início do século XX, a partir dos livros de leitura da época, de antologias e de publicações em jornais. A seguir, investiga-se a vida literária de Almeida a partir de um levantamento de dados, sobretudo em jornais do período, enfatizando sua participação na Academia Paulista de Letras. Ressalta-se aqui, além da participação em diversos periódicos, a fundação e a supervisão da revista AMensageira (1897-1900) e o envolvimento em jornais direcionados para mulheres. Destaca-se, ainda, além da publicação de poemas voltados para infância e da organização da antologia Livro das aves: crestomatia em prosa e verso (1914), a produção da poetisa para o público adulto. Por fim, como foco central da pesquisa, dedica-se ao estudo da 5ª edição de Paginas infantis, composta de 64 poemas, 4 trovas, 7 contos, 2 cartas, 15 enigmas (adivinhas), 4 hinos e 1 canção. Nesta fase da tese, observa-se a diversidade temática dos poemas, os aspectos formais, a incorporação de formas da literatura oral e as diferenças entre sua obra e as demais publicadas na época, principalmente, no que se relaciona à abordagem pedagogizante. Por fim, organiza-se uma antologia comentada com poemas presentes no nosso corpus, oportunizando o acesso aos que ainda podem favorecer um diálogo com leitores contemporâneos. A pesquisa é de caráter documental e bibliográfico, com natureza qualitativa e dimensão interpretativa, que abarca os valores socioculturais, pedagógicos e literários propagados no período de circulação e de recepção da obra. Como fundamentação teórica para a compreensão dos efeitos estéticos que a linguagem poética é capaz de ofertar, estuda-se Arroyo (2011), Bordini (1986), Camargo (2001), Lajolo (1982) e Lajolo e Zilberman (2007). Trata-se, portanto, de uma obra que ostenta importantes valores estéticos, mas que ficou praticamente desconhecida do público leitor, especialmente após a morte da autora.
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JOÃO LENO PEREIRA DE MARIA
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CARTOGRAFIA DE SABERES: as narrativas orais de sete mulheres em comunidades tradicionais nas/das Amazônias da região Bragantina, no Pará
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Data: 29/06/2023
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Hora: 09:00
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Essa tese insere-se na interface dos Estudos de Gênero, Poéticas de Oralidade e Decolonialidade. Versará sobre as representações do feminino e seus saberes tradicionais, que, de há tempos, são debatidos em ambientes acadêmicos e em diferentes plagas sociais; pensar a (s) mulher (eres) enquanto categoria, em seus processos/vivências, constituiu um discurso político e científico potente na agenda do século XX e XXI. Dessa forma, o presente texto traz como corpus de abordagem as narrativas orais de sete mulheres oriundas de comunidades tradicionais nas/das Amazônias da região bragantina (no estado do Pará), interpretadas, elas e suas estórias, à luz de categorias, tais como: interseccionalidade (AKOTIRENE, 2019), identidade e memória pessoal/coletiva (RICOEUR, 2000), (HALBWACHS, 2013) e rastros (GAGNEBIN, 2006). O recurso metodológico que valer-nos-emos será a cartografia, haja vista reconhecermos a pluralidade, fluidez e fissuras em nosso trabalho de campo, nas falas das entrevistadas, o que oportunamente nos fizeram redesenhar nossas escolhas epistemológicas, pensando na exequibilidade da tese que se atravessou para um
diálogo com as religiosidades populares, saberes tradicionais e protagonismos femininos. Aponto e aprofundo, enquanto contribuição acadêmica, os conceitos de Protoambientação e Vereda Identitária, a fim de ampliar o debate sobre a ética em trabalhos de campo em comunidades tradicionais e, ao mesmo tempo, experienciar um exercício de (co) criação a partir de minha escuta, assim, devolvendo/assentando um conceito mais cabível às experiências relatadas. Utilizar-nos-emos, ainda, como suporte teórico de autores (as), tais como, (MONTENEGRO,1994; PERROT, 1989; GEERTZ, 1978; DURAN, 1997; MAUSS, 2003) dentre outros (as).
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MARGARIDA RODRIGUES DE ANDRADE BORGES
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A VERBO-VISUALIDADE NA OBRA DE DEIVID PEREIRA.
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Data: 28/06/2023
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Hora: 10:30
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Esta dissertação discorre acerca de uma análise verbo-visual na obra
artística produzida e adaptada pelo artista Surdo Deivid Pereira. Essa produção foi
criada e adaptada para a cultura surda porque conta com a presença de recursos
imagéticos do texto escrito em Libras por intermédio do sistema SignWriting - SW para
escrita das línguas de Sinais. Suas produções são ilustrações que carregam linguagem
verbal e não-verbal em seu plano promovendo comunicação visual. Nosso
embasamento teórico advém de Bakhtin e do seu Círculo na tratativa das categorias
teóricas: a noção de autoria, o auditório, o sentido, a ideologia, os signos, a estética, o
estilo, a polifonia e particularmente a verbo-visualidade de Brait (2009; 2013). Temos
como objetivo geral, descrever a partir dos sentidos as questões de estrutura e
conteúdo da verbo-visualidade contida obra de Deivid Pereira. E nos objetivos
específicos: discutir sobre a relação entre cultura surda, identidade e verbo visualidade;
analisar as relações dialógicas existentes nas ilustrações; investigar a relação de sentidos
verbo visual na obra de Deivid Pereira e identificar a forma como o texto verbal se
apresenta no texto que compõe-se como texto verbo visual. Para isso pretendemos
encontrar resposta para a seguinte indagação: Quais são os efeitos de sentidos do texto
verbo-visual na obra de Deivid Pereira? Para responder a essa questão, propomo-nos a
analisar três obras que abordam temáticas sociais relevantes como: violência contra a
mulher, trabalho do corte de cana-de-açúcar e racismo. Adotamos a metodologia
qualitativa de caráter e técnica documental para análise da produção de sentido no texto
verbo-visual das obras acima citadas. Os dados confirmam que as obras analisadas são
textos pertencentes à categoria verbo-visual e evidencia ideologias e valores da cultura
Surda. Nos resultados da análise evidenciamos a categoria sentido, além de outras
categorias teóricas advindas do pensamento de Bakhtin. Em virtude das produções
artísticas circulam em diferentes espaços, sejam esses físicos ou digitais, na modalidade
sinalizada ou escrita da Libras, como é o caso das obras aqui analisadas, enfatizamos
que as criações artísticas de sujeitos Surdos evidenciam sua cultura surda por meio de
experiências visuais na língua de sinais, o que incentiva o surgimento de novas formas
de beleza artística
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HILDENIA ONIAS DE SOUSA
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LETRAMENTO LITERÁRIO NA ESCOLA: UMA PROPOSTA CURRICULAR PARA OS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
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Data: 31/05/2023
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Hora: 14:00
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Esta pesquisa de abordagem qualitativa e procedimentos bibliográficos objetivou a elaboração de uma proposta para o ensino da literatura nos anos finais do ensino
fundamental, com foco no letramento literário. Para tanto, o percurso traçado é composto
por: uma revisão bibliográfica sobre ensino da literatura, compreendida no decênio 2011-
2020; uma leitura da BNCC, como documento orientador dos currículos escolares; assim
como uma abordagem sobre currículo e literatura. O aporte teórico sobre letramento
literário baseia-se na acepção brasileira tomada nos estudos de Paulino (2004, 2005,
2010) e Cosson (2006, 2020, 2021, 2022). No que tange às concepções sobre currículo,
buscou-se autores como Sacristán (2013), Saviani (2016), Santomé (2013), além de outros autores. Para as concepções teóricas sobre literatura, recorreu-se a Culler (1999),
Eagleton (2003), Aguiar (2004) e Compagnon (2014) a fim de se discorrer sobre as
tentativas de conceituação e se chegar à concepção adotada pelo letramento literário.
Cumprindo esse percurso, procedeu-se à elaboração da proposta que consistiu na
organização de etapas que privilegiam a construção do perfil de leitores, a organização
das comunidades de leitores, as práticas de leitura, as estratégias de mediação, formação
de uma estante literária e mobilização de conhecimentos. Dessa forma, entendendo-se
que a escola deve praticar a justiça curricular (SANTOMÉ, 2013), o letramento literário
é uma alternativa para contribuir para que isso aconteça, através da organização de
tempos-espaços para a leitura, de bibliotecas que disponham de um bom acervo literário,
que permita o manuseio de textos e de atividades contínuas, planejadas e sistematizadas
para serem desenvolvidas dentro e fora da escola, respeitando-se as especificidades da
comunidade de leitores. Nessa direção, espera-se que a escola contribua para alargar a
noção de literatura para além dos textos escritos e legitimados como literários, trazendo
outros textos, seja da tradição oral, da Internet, do cinema, dos meios de comunicação de
massa, a fim de que o aluno compreenda que a literatura participa desses textos e eles,
por sua vez, também participam da literatura. Nessa perspectiva, a presente pesquisa traz
contribuições no sentido de oferecer uma análise crítica do material coletado sobre o
ensino da literatura, reflexões sobre currículo, assim como uma proposta de ensino de
literatura com foco no letramento literário, com a possibilidade de contribuir para a
inserção do diverso no currículo escolar.
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MARIA BETÂNIA PEIXOTO MONTEIRO DA ROCHA
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EFEITO ESTÉTICO, SEDUÇÃO E TRADUÇÃO EM LEILA
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Data: 24/05/2023
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Hora: 14:00
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A obra literária não é um objeto físico que possa ser manipulado, não para a teoria do efeito estético, proposta por Wolfgang Iser (1996, 1999a). No escopo dessa teoria, a obra consiste em uma realização virtual, da qual fazem parte o/a leitor/a implicado/a no ato de leitura e o texto literário. Guiado pelas estratégias da estrutura textual, o/a leitor/a sente os efeitos estéticos da obra, e imerge em um processo de constituição de sentidos. No entanto, além da estrutura do texto, há também a conformação psíquica do/a leitor/a não prevista pela teoria do efeito estético , que opera, no sentido laplancheano do termo, na tradução de mensagens enigmáticas provenientes da situação antropológica fundamental, pensada numa dimensão sexual e comunicacional, a qual reverbera no ato de leitura. Diante das estratégias do texto e do psiquismo do/a leitor/a, como se dá a produção de sentido e de significado de uma narrativa ficcional ilustrada, perpassada pelo tema do abuso sexual? O questionamento levou ao Mapeamento da Experiência Estética e ao mapeamento psíquico de uma leitora real a autora da pesquisa , com vistas a contribuir com a crítica literária e para o ensino de literatura. Além disso, buscou-se: a) apresentar um estudo metateórico entre a teoria do efeito estético (TEE) e a teoria da sedução generalizada (TSG); b) mapear a leitura do livro Leila com base nas TEE e TSG; c) analisar os efeitos estéticos aparentemente não ancorados pelo texto ficcional; d) identificar a função assumida pelas imagens durante a leitura de Leila; e e) discorrer sobre a interferência das experiências pessoais no processo de tradução do corpus, num exercício autotradutivo (LAPLANCHE, 1989). A metodologia de realização do trabalho foi estruturada por três abordagens: descritiva, explicativa e autobiográfica. Um dos resultados alcançadas revela que, durante a realização da obra, inicia-se um processo comunicativo entre as alteridades do texto e do/a leitor/a, dando a possibilidade de tradução e de retradução dos enigmas originários.
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PRISCIANE PINTO FABRICIO RIBEIRO
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ENTRE A CRIPTA E O FANTASMA: A TRANSGERACIONALIDADE EM ANTÍGONA, DE SÓFOCLES
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Data: 02/05/2023
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Hora: 09:00
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Esta tese tem como objetivo investigar o conceito da transgeracionalidade psíquica na personagem Antígona, tendo como corpus da pesquisa a obra homônima de Sófocles. A partir disso, apresenta-se a face de Antígona sob a luz do míasma familiar, determinando na obra a tensão trágica do páthos, considerando que, as ações da heroína, para além de uma visão religiosa e política, são diretamente conduzidas pelo elo sanguíneo e macular de seus ancestrais. Para tanto, fez-se necessário tecer, primordialmente, reflexões sobre a dinâmica entre mito, tragédia e psicanálise, bem como apresentar um panorama sobre a tragédia e o herói trágico, além dos seus conceitos essenciais de páthos e cátharsis, a fim de instituir bases para a identificação das conexões entre o herói trágico e metapsicolgia. Em seguida, elencamos a perspectiva freudiana sobre a herediteriedade e as influências filogenéticas na constituição do trauma e na subjetivação do indivíduo, como concepção basilar à teoria da transgeracionalidade desenvolvida por Abraham e Torok, bem como seus conceitos de Cripta e Fantasma. Por fim, apresentamos um Itinerário da raça dos Labdácidas tomando como fio condutor o míasma como o elemento lacunar e alienante que recai sobre os membros familiares e as passagens de gerações até a figura de Antígona. Baseada na teoria de Abraham e Torok, a pesquisa busca compreender as afecções transgeracionais dessa heroína, receptora do fantasma familiar, evocado pelas histórias e traumas familiares que se transmitem de geração em geração, em Antígona, de Sófocles. Para uma melhor abordagem e uma análise mais minuciosa da obra estudada, dispõe-se uma tradução operacional do corpus da pesquisa, bem como de obras secundárias que serviram de arcabouço literário para a investigação.
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MARCELO DE LIMA FERNANDES
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A AMBIGUIDADE ENTRE O VIVIDO E O CRIADO: INTERMIDIALIDADE, MEMÓRIA E METAFICÇÃO EM DOR E GLÓRIA, DE PEDRO ALMODÓVAR
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Data: 20/04/2023
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Hora: 08:00
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Dor e glória (2019), filme do diretor Pedro Almodóvar, acompanha diversos períodos da vida de Salvador Mallo, um diretor de cinema interpretado por Antonio Banderas. A intenção do presente trabalho é, a partir das categorias teóricas de intermidialidade (MOSER, 2006; CLÜVER, 2006; 2012; RAJEWSKY, 2012, 2020), metaficção (WAUGH, 1984; HUTCHEON, 1991) e memória (BERGSON, 1999; HALBWACHS, 2006), analisar como, em Dor e glória, a ficção assume um papel preponderante na jornada do protagonista e de outras personagens. Para tanto, ancoramos nossas discussões no âmbito das escritas de si (LEJEUNE, 2008; DOUBROVSKY, 2011; FAEDRICH, 2014; COLONNA, 2014) para compreender a maneira como essas ferramentas teóricas provocam uma ambiguidade entre ficção e realidade na narrativa fílmica. Nos valemos, ainda, das ideias de ideologia do cotidiano (VOLÓCHINOV, 2018) e política dos amadores (RANCIÈRE, 2012) para verificar os modos de imbricação da ficção na vida cotidiana sugerida por Dor e glória. Em nossa análise, constatamos que o longa de Almodóvar se utiliza de diferentes estratégias e ferramentas narrativas - como o diálogo com outras instâncias narrativas de mídias distintas, a exemplo do Livro do desassossego, de Fernando Pessoa, e o filme 8 ½, de Federico Fellini - para suspender a distinção entre ficção e realidade na diegese fílmica, suscitando questões acerca da materialidade que a ficção assume no cotidiano, da (in)distinção entre memória e criação e do papel do artista na construção de múltiplas possibilidades de ser e estar no mundo.
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CÍCERO ÉMERSON DO NASCIMENTO CARDOSO
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SOBRE O HERÓI ROMANESCO: A EDUCAÇÃO SENTIMENTAL, DE GUSTAVE FLAUBERT, E QUARUP, DE ANTÔNIO CALLADO
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Data: 28/02/2023
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Hora: 14:00
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Este trabalho consiste na realização de um estudo de caráter comparativo entre A
educação sentimental, de Gustave Flaubert, e Quarup, de Antonio Callado. Optamos por
estudar as obras que constituem nosso corpus a partir de uma categoria analítica
estrutural: o herói romanesco. Nesse sentido, nossa proposta foi desenvolvida com base
na ideia de que é possível perscrutar uma possibilidade de leitura capaz de representar
uma contribuição original para a fortuna crítica de ambas as obras. Nossa hipótese de
pesquisa pautou-se, inicialmente, na observação de convergências presentes na
construção dos heróis romanescos nelas apresentados, de modo que isso nos instigou a
pensarmos na maneira como esses heróis modernos agem no sentido de realizarem suas
metas existenciais e inserem-se em contextos sócio-históricos complexos que repercutem
na configuração subjetiva deles. Observamos, ainda, os recursos estéticos empregados
por seus respectivos autores para a construção desses heróis, além de analisarmos, na
linha do que György Lukács (2000) apresenta no ensaio A teoria do romance, que se
constitui a perspectiva teórica que adotamos, como Frédéric Moreau e Nando poderiam
ser categorizados em se tratando da tipologia apresentada pelo teórico. Como resultado
final, percebemos a pertinência do estudo comparativo sugerido, pois essas obras
apresentam convergências e divergências que nos possibilitaram reflexões significativas
acerca da categoria analítica que estudamos. Também foi possível discutir Frédéric
Moreau como herói do romantismo da desilusão e Nando como herói que apresenta traços
do herói da educação em suas especificidades. Como procedimento essencial de nosso
estudo, recorremos a uma pesquisa bibliográfica pautada no recolhimento, leitura e
análise de materiais indispensáveis para a construção dos debates para os quais nos
direcionamos. O levantamento de fortuna crítica nos possibilitou estabelecer algumas
linhas gerais que foram significativas para a compreensão desses romances distanciados
por um século e por mimetizarem espaços socioculturais, sociopolíticos e sócio-históricos
de países distintos. Para desenvolvimento de nosso debate, recorremos a estudiosos que
contribuíram profundamente para nossa investigação, dentre os quais, na Europa, Lukács
(2000), Marx (2012), Hobsbawn (1996) e Oehler (1999); e, no Brasil, Candido (2010),
Rosenfeld (2000), Chiappini (2000), Gouveia (2011), dentre outros.
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CRISTINA ROTHIER DUARTE
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LITERATURA DE MÚLTIPLOS DESTINATÁRIOS: PERSPECTIVA METATEÓRICA À LUZ DO LEITOR REAL
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Data: 28/02/2023
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Hora: 10:00
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Na contemporaneidade, temos verificado, recorrentemente, narrativas classificadas como literatura de múltiplos destinatários, de audiência dual ou crossover fiction, devido, segundo alguns especialistas (FALCONER, 2009; RAMOS; NAVAS, 2015; BECKETT, 2009), à temática e a determinadas características textuais que possuem. Conforme o entendimento de Beckett (2009), os textos literários, sobre os quais incidem esse fenômeno, apresentam uma comunicação narrativa que flui em duas direções, e os níveis de endereçamento são determinados não apenas pelos destinadores, mas também pelos destinatários, de modo que irrompem as fronteiras etárias. Não obstante a importância da participação do leitor nesse processo de ampliação do público intentado, em um primeiro momento, por instâncias legitimadoras (mercado editorial, instituições premiadoras etc.), ainda não fora dada a devida atenção às suas particularidades dentro desse contexto de interação com o texto literário. Diante disso, é objetivo geral, nesta pesquisa, analisarde que modo se dá essa comunicação entre um leitor adulto e um texto literário juvenil, porém considerado ficção de múltiplos destinatáriospela crítica. Em sede de objetivos específicos, visamos a: i. apresentar um recorte histórico da literatura infantil e juvenil brasileira; ii. empreender discussões teóricas acerca da (i)legitimidade da literatura juvenil e de abordagens teóricas sobre a literatura de múltiplos destinatários (crossover fiction); iii. contribuir metateoricamente com os estudos que versam sobre esse tipo de texto literário, a partir da articulação teórica proposta por Santos (2009) à luz da teoria do efeito estético e da teoria histórico-cultural; iv. verificaro processo de leitura do qual resultou o efeito estético vivenciado por uma pessoa adulta, a ora pesquisadora, em interação com o texto literário juvenil Aos 7 e aos 40 (2013), de João AnzanelloCarrascoza, viaMapeamento de Experiência Estética MAPEE (SANTOS, 2009, SANTOS; COSTA, 2020). A fundamentação teórica que apoia esta tese consiste nos estudos da teoria do efeito estético (ISER, 1996; 1999a) e da teoria histórico-cultural (VYGOTSKY, 2007; 2008). A metodologia desta pesquisa envolve o método fenomenológico, na medida em que viabiliza o perscrutamento da essência do ato de leitura de um leitor real; o indutivo, visto que, a partir dos resultados obtidos mediante o MAPEE, identificamos idiossincrasias do texto e do leitor que oportunizam o efeito estético; e o autoetográfico, procedimento adequado em razão do integral vínculo da pesquisadora em relação aos fenômenos que ela investiga e documenta. A análise do ato de leitura de um texto crossover permitir-nos-á, a título de resultado, a identificaçãodas particularidades do leitor e do texto literário, as quais exercem o papel condicionante do fenômeno de transposição dos limites etários estabelecidos pelo mercado editorial.
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CAIO ANTONIO DE MEDEIROS NOBREGA NUNES GOMES
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Articulações da paródia na coleção Devorando Shakespeare
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Data: 28/02/2023
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Hora: 09:00
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Essa tese constitui um estudo acerca da paródia nos três romances que compõem a coleção Devorando Shakespeare, publicada no Brasil entre os anos 2006 e 2007. São eles: Trabalhos de amor perdidos (2006), de Jorge Furtado, que retoma a trama da peça homônima de Shakespeare; A décima segunda noite (2006), de Luis Fernando Verissimo, intertexto construído a partir da comédia Noite de Reis; Sonho de uma noite de verão (2007), de Adriana Falcão, escrito com base nos eventos da celebrada peça que empresta seu título à narrativa brasileira. Em relação a essas narrativas, são analisados desdobramentos metaficcionais em três níveis de articulação cultural, textual-verbal e midiático. Além disso, argumentamos que cada um desses níveis está conectado a um ethos específico da paródia, o que resultou em discussões sobre devoração intercultural, crítica intertextual na forma de uma ficção teórico-crítica e memória intermidiática. Nosso referencial teórico-metodológico é composto especialmente pelas discussões de Hutcheon (2000), Rose (1979) e Dendith (2000), no que concerne à paródia; por Currie (1995), Hutcheon (1980) e Waugh (1984), em relação à metaficção; por Al-Shara (2009), Fux e Moreira (2008) e Greaney (2006), sobre os postulados da ficção teórico-crítica; e por Bruhn (2016), Rajewsky (2012) e Wolf (2011), em relação à intermidialidade. A partir das análises feitas, foi possível concluir que a paródia é uma estratégia criativa repleta de nuances e substancialmente complexa: os entre-lugares que nutrem a paródia possibilitam diversas novas possibilidades interpretativas, diversas novas chaves de entrada e de saída para as obras, que podem ser muito importantes em meio às distorções e aos novos arranjos visuais decorrentes da reflexividade da casa de espelhos que caracteriza os textos metaficcionais da coleção Devorando Shakespeare.
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RODOLFO MORAES FARIAS
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Da mulher vazia à mãe possível: as agonias da maternidade e a erosão feminina em Buchi Emecheta e Ayọ̀bámi Adébáyọ̀
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Data: 28/02/2023
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Hora: 08:00
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A emergência das literaturas africanas (pós-coloniais) de autoria feminina se deu em um
contexto de dupla resistência, pois as primeiras escritoras do continente precisaram enfrentar o mundo masculino local, que desdenhava de seus textos, e o mercado editorial internacional, que as alocava indiscriminadamente junto às feministas ocidentais, cujas demandas não coincidiam com as suas. À luta contra a opressão de gênero foi então somada a disputa por independência, por alforria epistêmica, de modo a poderem dizer de si sem a influência masculina e longe da interferência do feminismo euro-(norte-)americano. No que concerne à maternidade, as autoras africanas tiveram de se distanciar tanto da idealização masculina à figura da Mãe África, quanto do desdém ocidental ao papel materno, sobretudo numa época em que o direito ao aborto era a principal bandeira do movimento das mulheres. A maternidade africana, parte indissociável da essência ontológica autóctone, precisou da pena feminina para se libertar, rejeitando igualmente a apatia ocidental e a ideação local. Autoras como a nigeriana Flora Nwapa, a ganesa Ama Ata Aidoo e a senegalesa Mariama Bâ, por exemplo, deram os primeiros passos e abriram caminho para que outras pudessem trilhá-lo. Buchi Emecheta, contemporânea dessas vanguardistas e ela própria uma pioneira da literatura feminina nigeriana, teve seu quarto romance, As alegrias da maternidade (1979), transformado em símbolo da luta pela igualdade feminina no continente atacando, além da precariedade da condição da mulher naquela sociedade, a maternidade como instância de aviltamento e martírio para as mães, que, idealizadas pelo imaginário cultural, não gozavam, em vida, das benesses cantadas pelos poetas e griots. Na longa tradição literária daí surgida, destaca-se Ayọ̀bámi Adébáyọ̀ , jovem escritora cujo romance de estreia, Fique comigo (2017), prova que o abuso materno (mal) disfarçado de deferência e culto à mãe ainda segue cruciando muitas mulheres, quer ante a compulsoriedade da função materna, quer em razão das exigências torturantes feitas às mães. Este trabalho consiste, portanto, na análise das duas obras mencionadas, precedida de um exame da escrita pós-colonial africana que se propõe a estudar o surgimento e expansão dessas literaturas no último (meio) século, principalmente a produção escrita de expressão feminina, de humilde começo, mas que floresceu e hoje se mostra em nada devedora, em qualidade e alcance, à tradição masculina.
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THAISE GOMES LIRA
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AS CASAS DE VIDRO EM NÓS: panóptico e contranarrativa nas obras de Ievguêny Zamiátin, Ivan Ângelo e Rubem Fonseca
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Data: 27/02/2023
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Hora: 09:30
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As narrativas distópicas brasileiras dos séculos XX e XXI possuem ressonâncias
da distopia russa Nós (2017 [1924]), de Ievguêni Zamiátin, e é necessário um olhar mais
atento sobre essas produções, em aspectos estruturais e temáticos. Nesta tese, entre os
variados aspectos em comum nas obras distópicas, ressalto dois pontos principais:
primeiro, a ideia do panóptico de Jeremy Bentham, que pode ser representada nas
ferramentas de controle, opressão e repressão populacional nas distopias; segundo, o
conceito de contranarrativa de Raffaella Baccolini nas narrativas analisadas neste
trabalho. A principal obra analisada nesta tese é Nós (2017), um romance distópico escrito
no início da década de 1920, mas publicada apenas em 1924, na cidade de Nova Iorque
(EUA) e em inglês, porque a censura na U.R.S.S. vetava a publicação de obras como
aquela no seu país de origem. A narrativa russa é construída em forma de entradas de um
diário, no qual o engenheiro e matemático D-503, membro orgulhoso do Estado Único
(novo sistema de governo mundial), fala do seu novo mundo, da sociedade que, para os
números (ou unifs) é a mais perfeita da história, e também dos elementos opositores
que começam a se levantar contra o regime do Benfeitor, o chefe da nação. Nós (2017)
influenciou importantes narrativas distópicas, como Admirável Mundo Novo (2014
[1932]), de Huxley, e 1984 (2009 [1949]), de Orwell, entre outras; embora alguns autores
discordem do pioneirismo russo no gênero, o que é defendido por Booker (1994), o
reflexo de Zamiátin nas obras distópicas é perceptível na análise: no uso da força bruta
para reprimir movimentos, nas transformações espaciais e sociais, na centralização de
poder, nas tecnologias avançadas, na falta de harmonia social e na forte presença do vidro,
em toda a sua simbologia. A pesquisa, que é bibliográfica, qualitativa e explicativa, parte da apresentação da fortuna crítica dos autores mencionados no estudo; na sequência, fala
das perspectivas teóricas da narrativa segundo Todorov (2013), Genette (2015; 2017),
Reuter (2004) e também da contranarrativa como um discurso de resistência, segundo
Baccolini (1995). Posteriormente, aborda o panoptismo, segundo Bentham (2019), caso
em que são essenciais também os estudos de Foucault (1987). Adiante, apresenta a obra
Nós (2017), de Zamiátin, em seus traços distópicos, e, para isto, são fundamentais os
preceitos teóricos de Booker (1994), Baccolini (1995), Claeys (2010), Vieira (2010) e
Moylan (2016). Por fim, a tese apresenta a análise da obra de Zamiátin, mais o estudo dos
contos O quarto selo (fragmento) (1987 [1969]), de Rubem Fonseca, e A casa de
vidro (1979), de Ivan Ângelo, de modo a estabelecer semelhanças e distinções entre as
obras do corpus. Esta pesquisa buscou incentivar os estudos comparativos entre a distopia
brasileira e a russa, pela relevância e originalidade da obra de Zamiátin, e pela influência
notável do escritor russo sobre autores da literatura distópica universal.
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SANDRELLE RODRIGUES DE AZEVÊDO
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A VOZ DA CRIANÇA NA POESIA INFANTIL BRASILEIRA
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Data: 24/02/2023
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Hora: 14:00
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Esta tese analisa a presença da voz da criança na poesia infantil brasileira, tendo como
ponto de partida a obra Poesias infantis, de Olavo Bilac, publicada em 1904, até a
produção contemporânea de poemas para crianças, num recorte de 100 livros a que
tivemos acesso durante a pesquisa. Trazemos inicialmente um relato das mudanças na
forma como a infância foi vista no ocidente através do tempo, fundamentados nos estudos
de Ariès (1981), Gélis (1991) e Perrotti (1986), bem como suas especificidades em solo
brasileiro, estudadas por Priore (2007) e Dourado e Fernandes (1999), e os
desdobramentos dessa descoberta da infância pelas ciências humanas, apoiados em
Gouvêa (2011) e Souza (1997). Apresentamos também como surge a literatura brasileira
escrita para crianças, principalmente do ponto de vista das narrativas, e comentamos
como esse olhar sobre a infância também pode ser estudado a partir do texto literário,
embasados por Zilberman (1987), Lajolo e Zilberman (2002) e Coelho (2006, 2010). Em
seguida, chegamos às especificidades da poesia nacional voltada para crianças, e fazemos
um percurso histórico do aparecimento e desdobramentos da produção poética infantil no
Brasil, dialogando com Bordini (1986, 1989), Coelho (2006), Cecantinni e Aguiar (2012),
Camargo (2000, 2012) entre outros. Na sequência, trazemos os principais resultados
quantitativos da análise do nosso corpus, e traçamos os critérios de definição das nossas
categorias de análise. No último capítulo, olhamos de maneira aprofundada algumas
obras poéticas completas, com foco nas vozes que se apresentam nos textos e suas relações com qualidade estética, época de produção, caráter pedagogizante e
representatividade infantil. Por fim, concluímos que embora seja importante para uma
possível identificação do leitor com o texto poético, o sujeito lírico é apenas um dos
recursos que podem ser utilizados pelos autores de poemas para a produção de um texto
em versos de qualidade para as crianças.
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FERNANDA CARDOSO NUNES
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TRADUZINDO NARRATIVAS MÍSTICAS DE AUTORIA FEMININA MEDIEVAIS: UMA ANÁLISE LITERÁRIA DAS OBRAS DE JULIANA DE NORWICH E MARGERY KEMPE
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Data: 24/02/2023
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Hora: 09:00
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Esta tese tem por objetivo a análise literária das obras A Revelationof Love (c.1395), de autoria das místicas inglesas Juliana de Norwich (c.1343 c. 1416), em sua versão longa, e The Book ofMargeryKempe (c.1438) de MargeryKempe (1373 - c. 1438), bem como propor a tradução desta última para a língua portuguesa. A análise se realizará com o aporte da crítica literária feminista buscando observar como questões relativas à como se dá as representações da memória, do corpo e da maternidade nos textos das duas mulheres. Sobre a fundamentação teórica acerca da memória, utilizaremos os escritos de Jacques Le Goff acerca da memória em História e Memória (2003); Minha história das mulheres (2015) de Michelle Perrot e as Confissões (2013) de Santo Agostinho. Sobre a representação do corpo e da maternidade de Jesus Cristo
faremos uso dos seguintes estudos: de Caroline Walker Bynum, Jesus as Mother: Studies in theSpiritualityofthe High Middle Ages (UCLA, 1983); Sarah McNamer, "The ExploratoryImage: God as Mother in Julian ofNorwich'sRevelationofDivine Love" de 1989; a pesquisa de Josué Soares Flores, Maternidade de Deus em Juliana de Norwich (2013) e os estudos de Liz Herbert McAvoy sobre AuthorityandtheFemaleBody in theWritingsof Julian of Norwich andMargeryKempe (D. S. Brewer, 2004), além da obra A Companion to Julian of Norwich (D. S. Brewer, 2008); bem como o artigo de LieveTroch,Mística Feminina na Idade Média: historiografia feminista e descolonização das paisagens medievais, para compreendermos o lugar das místicas enquanto produtoras de textos literários (2013); Nancy Bradley Warren, Feminist Approaches toMiddleEnglishReligiousWriting: The Cases ofMargeryKempeand Julian of Norwich (2007), os estudos de Lúcia OsanaZolin (2009) sobre crítica feminista e literatura de autoria feminina, bem como o texto de Lélia Almeida, Linhagens e ancestralidade na literatura de autoria feminina (2004). A respeito da tradução da obra de MargeryKempe, teremos como aporte teórico os estudos acerca da tradução de Susan Bassnett com sua compilação Estudos de Tradução (2005); Paulo Henriques Britto e A tradução literária de 2012; André Lefevere, com seu Tradução, reescrita e manipulação da fama literária (2007); Sherry Simon e seu Gender in Translation (2005) e Louise Von Flotow com seu estudo TranslationandGender: Translating in the Era ofFeminism (2013). Juliana de Norwich e MargeryKempepodem ser consideradas transgressoras ao romperem com papéis convencionados às mulheres de seu tempo. Seus escritos trazem o papel feminino numa nova perspectiva de protagonismo religioso, social e literário. Através dessa pesquisa, esperamos deixar claro o quanto esse processo de resgate e releitura pode ser renovador para os estudos literários, da cultura e da tradução.
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