Esforços consideráveis têm sido direcionados ao desenvolvimento de produtos de origem natural como agentes antimicrobianos na prevenção da cárie dentária. Poucos trabalhos avaliaram extratos de plantas sobre Streptococcus mutans (S. mutans), e a maioria determinou o potencial antimicrobiano por métodos microbiológicos convencionais. Considerando as limitações desses métodos, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a atividade antimicrobiana in vitro de 15 plantas sobre S. mutans UA159 em dois modelos: planctônico e biofilme. Valores de concentração inibitória mínima (CIM) dos extratos e frações frente S. mutans planctônicos foram determinados pela técnica de microdiluição em caldo com o uso de resazurina. A concentração bactericida mínima (CBM) foi determinada por plaqueamento em ágar BHI, e a contagem bacteriana referente à CIM realizada em placas de ágar MSB após diluições seriadas. As soluções bacterianas foram submetidas às análises de fluorescência usando os corantes SYTO9 e Iodeto de Propídeo. As soluções teste com os menores valores de CIM (fração diclorometano (CH2Cl2) de Lippia sidoides Cham. e frações n-hexano de Anacardium occidentale Linn., Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan e Hymenaea courbaril L. (fruit) foram prepararas em concentrações superiores às testadas no modelo planctônico, e testadas em biofilmes de 12 horas formados sobre discos de esmalte bovino em célula de fluxo. O biofilme foi submetido a um único tratamento com as soluções teste por um minuto. As células do biofilme foram dispersas e analisadas quanto a sua viabilidade pelos métodos de fluorescência e contagem viável das unidades formadoras de colônia (UFC/mL) da mesma forma realizada no modelo planctônico. As frações também foram submetidas às análises de ressonância magnética nuclear (RMN) para identificar compostos químicos. Pela análise fitoquímica observou-se acentuada presença de taninos especialmente nos extratos de plantas lenhosas. Esteróides, flavonóides e saponinas foram encontrados em níveis variados em todos os EEB. O menor valor de CIM foi obtido pela fração hexânica de A. occidentale Linn. (100 µg/mL), e em geral os valores de CBM foram superiores ao da CIM. Pela análise de fluorescência, foi observou-se complete inviabilização dos S. mutans pela fração CH2Cl2 de L. sidoides Cham., e percentuais de viabilidade menor que 1% para a fração n-hexano de A. occidentale Linn. Não houve correlação entre os percentuais de viabilidade obtidos pelos métodos de fluorescência e de contagem bacteriana (UFC) nos ensaios com S. mutans planctônicos e organizados em biofilme. Nesses últimos, as frações CH2Cl2 de L. sidoides Cham. e n-hexano de A. occidentale Linn. apresentaram valores percentuais de viabilidade próximos ao da clorexidina 0,12%. No espectro de RMN de hidrogênio e carbono 13 da fração CH2Cl2 de L. sidoides Cham. detectou-se a presença de sinais característicos de prótons aromáticos e sinais concordantes com um monoterpeno fenólico (timol). Sugere-se frente ao potencial antimicrobiano demonstrado pelos extratos e frações sobre os S. mutans UA159 planctônicos e organizados em biofilme, que as plantas ensaiadas são fontes de princípios ativos antimicrobianos para o desenvolvimento de bioprodutos para controlar ou inibir essa bactéria cariogênica