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ANDRÉA CARLA DE MAGALHÃES CAMPOS SÁ
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Identidades, tradições e resistências: um estudo sociológico da Festa da Rapadura no sertão de Pernambuco
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Data: 17/12/2020
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Hora: 09:00
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A capital nordestina da rapadura ou a cidade mais doce do sertão pernambucano ou mesmo a terra da maior rapadura do mundo são construções simbólicas com poder de forjar noções de identidade, tradição e resistência cultural em torno de um mesmo evento: A Festa da Rapadura (ou Feira da Rapadura) que acontece em Santa Cruz da Baixa Verde, município de 13 mil habitantes situado no Sertão de Pernambuco há mais de 400 km do Recife. É em torno deste evento que foi possível investigar uma complexa relação de forças entre indivíduos e grupos com diferentes visões de mundo. Foi possível compreender, com base na análise de um festejo popular, lutas por diferenciação social e sociabilidades específicas a partir de um alimento banal à mesa nordestina. A presente pesquisa buscou evidenciar múltiplos sentidos que uma festa aparentemente despretensiosa carrega enquanto fenômeno sociológico. Com isso, descobriu-se como a apropriação da rapadura em Santa Cruz carrega consigo uma gama conflituosa de valores e interesses que podem culminar na preservação de um modo de fazer alimentar ou na total destruição de um saber popular que existe há séculos.
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ALCELIA ALMEIDA CAVALCANTE AMORIM
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Sociabilidades entre idosas em um posto de saúde de João Pessoa/PB
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Orientador : MARCELA ZAMBONI LUCENA
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Data: 11/12/2020
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Hora: 10:00
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Este trabalho tem como temática a sociabilidade feminina na velhice. As participantes
da pesquisa foram mulheres frequentadoras do Grupo de Convivência para Idosos(as),
de uma Unidade Básica de Saúde da família em João Pessoa/PB. Trata-se de um Grupo
de Promoção de Saúde que atende ao princípio da integralidade na saúde coletiva. O
interesse acerca desse grupo surge da percepção de que a partir das interações nesse
local, um posto de saúde, emerge uma sociabilidade na perspectiva simmeliana. Tem
por objetivo compreender a perspectiva e a percepção das mulheres serem
frequentadoras desse espaço. A pesquisa de natureza qualitativa foi efetuada por meio
de entrevista semiestruturada, participação nas reuniões do grupo e pesquisa
bibliográfica. A finalidade deste trabalho, portanto, foi a de compreender como a
sociabilidade se estabelece no grupo, marcada por três aspectos: por gênero, pelas novas
perspectivas do envelhecimento na contemporaneidade, e pelo local de encontros. Os
achados da pesquisa apontam para a inclusão do grupo, oriundo de uma política pública
de saúde, dentro de uma tendência cada vez mais de espaços de sociabilidades
femininos, em que na velhice há uma inversão da vida social além do lar, quando se
trata de gêneros. Já que só idosas frequentam o grupo e vão à procura de fazer amizades.
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NINIVE FONSECA MACHADO
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A construção de uma vida digna e a batalha por legitimidade moral: Fronteiras Simbólicas no Programa Bolsa Família
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Data: 20/11/2020
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Hora: 14:00
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Este trabalho busca analisar como se dá a construção de valores morais e de repertórios culturais
por parte dos beneficiários do Programa Bolsa Família na construção de fronteiras simbólicas
entre grupos sociais. Considerando a constante disseminação de críticas e imagens negativas
presentes no debate público em torno do Programa Bolsa Família desde sua criação, essa
pesquisa buscou identificar, a partir da percepção dos próprios beneficiários, quais são os valores
mobilizados por eles que guiam suas ações e dão sentido às suas vidas, bem como, o que os
fazem se aproximar ou se distanciar dos demais grupos sociais. Se, por um lado, as críticas (e os
estereótipos correspondentes) a essa política são muito visíveis, por outro lado, ainda se sabe
muito pouco acerca da forma como o próprio público beneficiário concebe as mesmas questões e
problemas, ou mesmo se mobilizam outros elementos no processo de significação de sua própria
condição de beneficiários. Os dados discutidos na tese são o resultado do trabalho de campo
realizado em um bairro pobre da cidade de João Pessoa e a constante relação dessa realidade com
a literatura produzida sobre pobreza, desigualdade, políticas sociais e moralidade. Com a triste
marca de ser um dos países mais desiguais do mundo, a discussão trazida nos dois primeiros
capítulos desse trabalho remonta a trágica história brasileira de ser capaz de perpetuar índices
alarmantes de pobreza e as consequentes estratégias utilizadas pela sociedade para invisibilizar
essa situação. Como forma de atacar o problema, brotam ao longo da história inúmeras
narrativas sobre os motivos que levariam o Brasil a ser tão pobre e tão desigual, carregadas de
julgamentos morais e subsidiadas por repertórios economicistas que nada mais fazem do que
transferir ao pobre a responsabilidade por suas situações. É nesse contexto que esse trabalho
busca perceber como os beneficiários elaboram suas narrativas, considerando que a imagem
comumente associada a eles está relacionada a pessoas preguiçosas, acomodadas e cheias de
filhos. Um dos resultados dessa pesquisa é que as beneficiárias do programa, ao contrário da
imagem veiculada sobre elas, sentem que ser beneficiária é, na verdade, uma conquista para
aquelas que batalham por isso, e não um direito garantido. Para elas, só é beneficiária quem luta
para conseguir o benefício e também para mantê-lo, já que permanecer beneficiária significa
cumprir com as regras estabelecidas pelo governo. Suas regras e condutas morais valorizam o
correto, justo e digno e o que as aproximam/distanciam de outras pessoas não é o fato de serem
ou não beneficiários do mesmo programa, e sim, de compartilharem dos mesmos valores éticos e
morais que elas. As imagens negativas veiculadas sobre os beneficiários em geral (preguiçosos,
acomodados e cheios de filhos) são compartilhadas pelas entrevistadas também, no entanto,
sempre em relação aos demais beneficiários, e não a elas mesmas. Nesse sentido, concluo que a
constante veiculação de críticas supostamente dirigidas a aspectos técnicos do programa são, na
verdade, críticas aos comportamentos das mulheres pobres beneficiárias do programa, e que o
impacto dessas imagens negativas reflete na formação de opinião das próprias beneficiárias sobre
suas ações, bem como no julgamento moral que elas fazem a respeito das ações de outros
beneficiários.
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GLADSON PAULO MILHOMENS FONSECA
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Cavalo do Vingador: Ethos da garimpagem na fronteira da Amazônia franco-brasileira - uma análise sociológica em Oiapoque
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Data: 29/10/2020
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Hora: 14:00
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O presente trabalho analisa a cultura e vivências da garimpagem na fronteira amazônica entre Brasil e Guiana Francesa. A pesquisa baseia-se na análise empírica de experiências constituídas por grupos distintos e suas respectivas formas de sociabilidade encontradas na fronteira. Argumenta-se que esta relação de proximidade, conforme observado, imbui-se de um Ethos local, capaz de agregar diferentes modos de sociabilidade imersos em sua constituição sócio-econômica, cujas bases referenciais estão ligadas aos garimpos clandestinos do território guianense. Ao longo de décadas, o norte amapaense tornou-se foco central da corrida do ouro em terras guianenses como principal referência econômica em Oiapoque, alijada às redes informais de exploração de ouro. A escolha metodológica baseou-se na observação participante (através de contatos diretos/indiretos) com os grupos sociais existentes e entrevistas realizadas a partir do contexto circunstancial de com homens e mulheres ligadas(os) em suas formas distintas ao universo garimpeiro vivenciadas nas áreas clandestinas da Guiana Francesa. De um modo geral, entende-se que a extração mineral faz parte da constituição histórica, social e econômica da Amazônia brasileira. De todo modo, a fronteira não pode ser pensada como um espaço compacto, mas como disruptura, um lugar capaz de neutralizar as funções institucionais do Estado, criando formas de sociabilidades peculiares, capazes de operar pelas vias da informalidade em suas mais variadas práticas.
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SANDRA SILVESTRE DO NASCIMENTO SILVA
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JARROS, ADORNOS OU PROFISSIONAIS? UM OLHAR SOBRE O PAPEL DA MULHER NA POLÍCIA MILITAR DA PARAÍBA
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Data: 21/10/2020
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Hora: 14:00
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Nesta tese, objetivou-se estudar como a institucionalidade cultural da Polícia Militar,
associada a um contexto androcêntrico, constitui-se em barreiras para aceitação da
mulher na Polícia Militar da Paraíba. Para isto, a partir de uma abordagem qualitativa,
através de pesquisa autoetnográfica e entrevistas realizadas com 30 policiais, foi
inicialmente realizada uma reflexão da inserção das primeiras soldadas incluídas na
Corporação, para a compreensão do processo de incorporação do habitus nas policiais.
Seguindo a pesquisa, foram apresentados os resultados das entrevistas, de conversas no
WhatsApp e da participação da autora como nativa em diversos eventos institucionais,
os qual serviram de material importante para as análises sobre a atuação profissional de
mulheres policiais da Paraíba. Nos resultados, verificamos que as soldadas pioneiras
passaram por dificuldades para incorporação do habitus, principalmente pela rigidez da
tríade militarismo, hierarquia e disciplina ao exigir que as militares respondessem ao
arbitrário cultural dominante. Verificou-se também que as policiais passam por
resistências para atuação na Corporação por serem consideradas inadequadas para a
profissão que, segundo o discurso dominante, está atrelada a características como força
e virilidade, atributos que socialmente são relacionados aos homens, configurando-se
em violências de gênero no interior da caserna.
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RICARDO BANDEIRA DE MELO
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CONSUMO DE CANNABIS E INDICADORES SOCIAIS DA DIFERENÇA
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Data: 31/08/2020
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Hora: 09:00
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Na literatura especializada sobre crime e desvio encontramos uma miríade de
estudos empíricos que mostram a existência de uma propensão do sistema de justiça e
das polícias em atuar de forma mais incisiva sobre determinados grupos sociais. Via de
regra, são tomadas diferenças estruturais de larga escala, como as raciais ou de classe.
Essa pesquisa busca, de forma semelhante, compreender a imposição diferencial de
regras para uma mesma prática realizada por indivíduos com perfis diferentes; mas em
uma escala muito menor: desenvolvida em São Lourenço da Mata pequena cidade que
transita entre o mundo rural e a periferia urbana, situada na Região Metropolitana do
Recife, Pernambuco entre março e dezembro de 2019, contando com vinte entrevistas
semiestruturadas, foram analisadas pessoas que apresentam baixa variação de renda,
moradia, composição racial, faixa etária e outros marcadores sociais da diferença. A
única variável que permitiu dividir as declarações em dois blocos através dos padrões
encontrados a posteriori foi o nível de escolaridade. Os respondentes com ensino
superior completo ou em andamento apresentaram grande empenho em manter o
consumo de maconha oculto dos olhares da família, vizinhança e pessoas em geral,
além de mostrarem-se preocupados em desenvolver estratégias para evitar a polícia. Já
os entrevistados com ensino médio completo ou nível de escolaridade inferior a esse
não apresentaram a mesma preocupação em ocultar sua prática ou em evitar a polícia.
Os dois blocos de falas apresentam grandes diferenças quanto às rotinas de uso,
significados atribuídos à maconha e outras drogas e motivações do consumo. No
entanto, o dado que causa maior espanto é a maneira como aqueles com níveis mais
baixos de escolaridade se sentem estigmatizados e a grande ocorrência de abordagens e
violência policial.
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DIEGO BRITO DA CUNHA LEITE
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A percepção de justiça pelo olhar de mulheres em situação de violência doméstica no município de João Pessoa, Paraíba
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Data: 28/08/2020
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Hora: 14:00
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A presente dissertação foi elaborada através da coleta de dados com as mulheres em
situação de violência doméstica no município de João Pessoa, Paraíba, tendo como local
o Centro de Referência da Mulher Ednalva Bezerra (CRMEB), objetivando analisar se
as percepções de justiça requeridas pelas mulheres em tal situação são as mesmas
contraprestadas pelo Poder Judiciário, refletindo sobre questões relacionadas à temática
de gênero e os movimentos feministas, bem como sobre a criminologia tradicional,
crítica e feminista, além da violência contra a mulher e as Políticas Públicas formuladas
em tal cenário, analisando também como as legislações para este enfrentamento (em
especial a Lei Maria da Penha) têm se concretizado no cotidiano das mulheres que
vivenciam ou vivenciaram tal situação, bem como se estas têm facilitado ou não o
acesso à justiça na perspectiva de tais sujeitas, indicando as dificuldades apresentadas
no percurso processual e institucional de tal busca, seja através da própria burocracia
inerente às práticas jurídicas, pela produção moral atribuída à cultura do Poder
Judiciário ou pela falta de exercício da cidadania às mulheres que se encontram em tal
contexto. Em relação ao percurso metodológico, este é de natureza qualitativa, realizado
a partir de uma abordagem sociológica crítica e com a utilização de observação
participante, bem como análise bibliográfica e documental, além da realização de 10
(dez) entrevistas semiestruturadas com as mulheres que frequentam ativamente o
serviço no CRMEB, sendo os critérios de inclusão a disponibilidade, a concordância de
participação na pesquisa e a existência prévia de acesso à rede judiciária (que para a
presente dissertação pauta-se no ingresso à Delegacia, Delegacia Especializada de
Atendimento à Mulher, Defensoria Pública, Ministério Público, Vara Criminal ou
Juizado Especial Criminal) para que, a partir do conhecimento das especificidades dos
casos, seja possível compreender o conjunto de processos sociais envolvidos nesta
temática, bem como os avanços e desafios enfrentados no tocante ao acesso à justiça.
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TATIANA ROCHA DE SALLES VENÂNCIO
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LIBERAIS DE ALMA: Socialização e identidade política de jovens na paraíba
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Data: 27/08/2020
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Hora: 15:00
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Esta tese estuda as trajetórias de indivíduos jovens que se afirmam liberais, com objetivo de
compreender o que é o liberalismo e como se constrói uma identidade política liberal,
frequentemente associada ao campo da direita no Brasil. Desse modo, o problema desta
pesquisa foi compreender esse tipo de ator juvenil, revelando quais as dimensões afetivas e
sociais com as quais ele foi socializado desde a sua infância e que compõem o seu caminho de
associação ao liberalismo. Assim, foi percebido que a identidade política liberal dos
interlocutores foi construída dentro de um processo socializador a partir de mecanismos
adquiridos através de suas famílias, escolas, vizinhanças, universidades e internet. Esta tese
parte do pressuposto de que a socialização política acontece de modo sutil no âmbito do
privado, uma vez que é tão somente no espaço da convivência em comum e no cotidiano que
os indivíduos podem se expressar e agir politicamente (MUXEL, 2014). As trajetórias dos
jovens pesquisados apontam para padrões nos sentimentos adquiridos através de suas famílias,
amigos ou colégios, em todos eles há um pano de fundo das ideias de uma esquerda progressista
e isso foi essencial na socialização das ideias liberais e, posteriormente, na transformação
política deles. O que denota que as convicções políticas são negociadas e renegociadas nas
relações pessoais (MUXEL, 2014). Esta tese é baseada em pouco mais de dois anos de pesquisa
etnográfica em Campina Grande, na Paraíba, e nas entrevistas em profundidade realizadas com
cada jovem liberal. A pesquisa empírica teve seu início em junho de 2016, estendendo-se até
dezembro de 2018, acompanhando a transição de poder entre a esquerda e a extrema direita,
contexto político delicado e marcado por novos arranjos e imprevisibilidades. Contudo,
momento significativo para o posicionamento político liberal antifusionista, defendido pelos
jovens apresentados nesta tese, que argumentam que os liberais não devem se fundir com os
conservadores, pois, ao fazê-lo, abrem mão de seus princípios, que são a liberdade econômica
e individual. Desse entendimento, surge entre eles a ideia de liberal de verdade, que sustenta
uma certa vigilância em relação aos demais, denotando que o liberalismo é um significante em
disputa e recentemente, no Brasil, está sendo incorporado por agentes que desafiam o olhar
sociológico.
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GLEICY SCHOMMER DOS SANTOS
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Pedagogia Concorrencial: Uma crítica sobre o lugar estratégico da educação básica na produção de valores neoliberais
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Data: 27/08/2020
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Hora: 14:30
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A presente pesquisa apresenta uma análise sobre as técnicas governamentais neoliberais que tem constituído a formação das crianças e jovens e busca compreender qual o tipo de pedagogia está vigente na educação básica brasileira e suas possíveis consequências. Para tal, recorreu-se à história dos movimentos e articulações políticas que culminaram no que hoje entendemos por neoliberalismo, bem como à história das ideias pedagógicas e políticas educacionais do Brasil. Analisados então alguns dos processos históricos da educação nacional, bem como da racionalidade neoliberal e a relação do Estado com o mercado, observamos alguns dos elementos que hoje compõem da educação básica nacional, tais como, uma cultura de avaliação, o apostilamento e programas de educação socioemocional, aos quais denominamos de vestibularização da educação. Observamos então, que esse processo de vestibularização tem permitido com que o princípio da concorrência, essencial ao neoliberalismo, tem se tornado também um princípio educacional, que acaba por reproduzir e acentuar desigualdades educacionais. Assim, concluímos que o tipo de formação vigente hoje na educação básica brasileira, dá-se na disseminação de valores que são próprios ao mercado e ao sistema capitalista neoliberal, e tem formado indivíduos concorrenciais, e assim, na falta de uma pedagogia construída teoricamente que desse conta de tal realidade, denominamos de Pedagogia Concorrencial.
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SUELI ALVES GERONCIO
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RESIDÊNCIA, TERREIRO E A ONG: Um Estudo Sobre a identidade na Casa de Cultura Ilé Asé D´Osoguiã
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Data: 30/07/2020
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Hora: 09:00
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Este trabalho de dissertação apresenta reflexões e análises acerca da discussão sobre
identidade afro-brasileira em um contexto de ONG. A pesquisa procurou analisar as
construções das relações e representatividade da identidade afro-brasileira na Casa de
Cultura Ilê Asé D´Osoguiã. Buscou-se perceber como as vivências no espaço da
Casa de Cultura favorecem ou não a discussão sobre identidade negra e a imersão na
relação religiosidade-voluntariado. A partir daí, emergem neste trabalho
os seguintes desafios a serem respondidos: Como se constrói os processos identitários
na Casa de Cultura Ilé Asé DOsoguiã e quais as formas de representatividade e
resistência? De que forma as discussões sobre identidade cultural aparece na Casa de
Cultura? Como a Casa de Cultura trabalha as temáticas que se relacionam com a
identidade e negritude? Assim sendo, tem-se como objetivo analisar a construção da
identidade étnica e cultural na Casa de Cultura Ilé Asé D´Osoguiã. Nesse intuito, tendo
como público alvo os dirigentes da casa, colaboradores, mães das crianças e jovens
assistidos pela Casa de Cultura Ilê Asé de Dosoguiã. Como procedimentos
metodológicos foram adotados o método etnográfico, pesquisa bibliográfica e
entrevistas semiestruturadas realizada com onze sujeitos participantes sendo: quatro
mães, dois dirigentes e cinco colaboradores da gestão e coordenação. A pesquisa
mostrou uma forte influência da cultura afro-brasileira representada através da
religiosidade, essencialmente, o candomblé. Observamos que, apesar do caráter
religioso a Casa de Cultura não atende apenas adeptos das religiões de matriz africana,
promovendo ações assistencialistas para toda a comunidade circunvizinhas. As
entrevistas com as mães dos assistidos mostraram que a questão religiosa não é
empecilho ou estímulo para participar da Casa de Cultura, posto que conhecem as
práticas religiosas e não consideram que esta atrapalhe as ações educativas realizadas no
local. Contudo, observamos que a Casa de Cultura não está isenta do estigma que os
espaços das religiões de matriz africana carregam, o que ficou registrado através da fala
dos entrevistados. Concluímos que existe uma tríade que reuni Terreiro, ONG e
Residência dos dirigentes, essa tríade perpassa todas as decisões e ações que o espaço,
enquanto ONG precisa tomar. Sendo assim, é possível notar que nasce da raiz religiosa
o desejo de seus dirigentes de promover a cultura afro-brasileira, a busca por
empoderamento e ações sociais.
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BRUNO FERREIRA FREIRE ANDRADE LIRA
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DESENVOLVIMENTO E CLASSES SOCIAIS NO BRASIL Uma análise da segunda experiência desenvolvimentista a partir da tensão colonialidade/decolonialidade
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Data: 07/07/2020
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Hora: 14:00
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O debate sobre desenvolvimento tem se distanciado das reflexões sociológicas e vem sendo monopolizado pelo saber econômico. O economicismo, baseado no imperialismo ortodoxo advindo do avanço do discurso e das práticas neoliberais desde a década de 1980, esvazia a retórica do desenvolvimento reduzindo-o a um modelo de crescimento econômico que marginaliza outras dimensões da vida social. Diante dessa inquietação, propomos ressignificar a ideia de desenvolvimento a partir do pensamento decolonial e da ideia do fato social total. Enquanto o primeiro identifica uma forte tensão entre colonialidade/decolonialidade que remete às disputas dentro do sistema-mundo capitalista/moderno/colonial entre formas de dominação/resistência; o segundo trata de refletir como desenvolvimento deve ser compreendido na totalidade das múltiplas dimensões seja econômica, política, social, histórica compreendendo a dinâmica destas de forma processual e relacional. É nesse
imaginário ressignificado que propomos analisar a relação entre possíveis transformações
nas estruturas da classe social e a segunda experiência desenvolvimentista brasileira,
durante os anos de 2006/14, pautadas na tensão colonialidade/decolonialidade. A
primeira parte desta pesquisa trata de desconstruir a ideia hegemônica de desenvolvimento situada na perspectiva economicista da calculabilidade, da previsibilidade e da racionalidade. A partir da crítica da sociologia econômica francesa através de Bourdieu, Steiner, Boltanski e Lebaron propomos esmiuçar criticamente a dominação financeira e os alicerces desta: mercado, sujeito glocal e saber econômico. Em seguida, trato de refletir o desenvolvimento dentro da América Latina e Caribe ao longo do pensamento social latino-americano e caribenho desde o desenvolvimentismo dos cepalinos, sendo estes criticados pelos dependentistas, até o pensamento decolonial e a construção da tensão colonialidade/decolonialidade. Neste último verifico a presença de uma matriz de poder colonial exercida pelo sistema-mundo capitalista/moderno/colonial que promove formas de colonialidade do poder, do saber e do ser. As formas de (r)existência se dão através do giro decolonial, movimento de ruptura com a colonialidade, gerando a decolonialidade pautado na desmercadorização, emancipação social e pluralidade dialógica. Estabelecidos os marcos teóricos, trato de construir uma metodologia baseada em marcadores sociais da tensão
colonialidade/decolonialidade de caráter ambivalente, mediador e interpretativo. Ao referir estes sob o desenvolvimento escolho os três alicerces da dominação financeira mercado, sujeito glocal e saber econômico e trato de identificar a ambivalência destes no tensionamento entre colonialidade/decolonialidade. A partir dessas ferramentas
metodológicas, reflito o universo desta pesquisa que é a segunda experiência
desenvolvimentista brasileira e suas políticas sociais economicamente orientadas salário
mínimo, concessão de crédito e programa bolsa família situados durante o segundo governo Lula (2007-2010) e o primeiro da Dilma (2011-2014). Posteriormente, com uso também dos marcadores, trato de verificar se houve de fato possíveis transformações da estrutura de classes sociais no Brasil a partir da relação desta com o modelo desenvolvimentista recente. Ao final, embasado no tensionamento olonialidade/decolonialidade, debato sobre os limites do recente desenvolvimentismo brasileiro que não conseguiu promover rupturas decoloniais para modificar o entrecruzamento de múltiplas formas de dominação e de classificação social.
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MAYLLE ALVES BENICIO
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ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO: O JOGO DAS DISPOSIÇÕES E CONTEXTOS NOS RETRATOS SOCIOLÓGICOS DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS
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Data: 30/06/2020
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Hora: 14:30
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Compreender as ações, o comportamento, as crenças e o pensamento dos atores sociais
tem sido a grande tarefa da Sociologia, do período clássico da disciplina até a
contemporaneidade. Algumas dessas teorias se complementam, outras se repelem, e o
eixo, tanto da conciliação como da divisão entre elas, ainda permanece igual, ou seja, o
dilema entre estrutura e agência. A sociologia em escala individual, proposta por
Bernard Lahire, tem ganhado terreno no campo teórico/metodológico das ciências
sociais por apresentar um modelo disposicionalista/contextualista da ação, cuja
explicação se encontra no jogo entre o social dobrado e o social desdobrado. Trata-se de
uma sociologia das experiências socializadoras que vai em busca do passado
incorporado dos atores para compreender suas ações, seus sentimentos, suas crenças e
seus pensamentos tanto na diacronia quanto na sincronia. O instrumento principal desta
abordagem é a construção de retratos sociológicos ou biografias sociológicas.
Fundamenta-se no princípio de que as mulheres e os homens de hoje, por viverem em
sociedades altamente diferenciadas, carregam a marca da pluralidade em seus
repertórios disposicionais. De posse dos instrumentos teóricos e metodológicos da
sociologia em escala individual lahireana, esta pesquisa se propôs a colocar em análise
uma questão que desde há muito tempo tem inquietado filósofos, teólogos, políticos,
cientistas e as pessoas comuns. A relação entre ciência e religião. Entre elas, tem sido
visto muito mais um hiato do que uma continuidade, considerando-se que o modelo de
ciência, adotado a partir da modernidade, deveria afastar-se de toda crença ou metafísica
que não pudesse ser verificada pela razão empírica. Daí, o estatuto de ciência e o
estatuto de religião tendem a aparecer como coisas distintas e antagônicas. A grande
questão, porém, é que tanto religião, quanto ciência são realizações humanas, são
produzidas e reproduzidas por pessoas, e estas pessoas, como demonstra a sociologia
em escala individual, são plurais. Então, nada impede que um cientista acredite em
Deus, e que um religioso credite à ciência legitimidade. Desta feita, o objetivo desta tese
foi investigar o repertório disposicional de professores universitários para compreender
como articulam-se os domínios científico e religioso corporificados em homens e
mulheres plurais que ocupam profissionalmente o espaço acadêmico, trazendo
contribuições para as discussões sobre as tensas relações entre fé e razão no mundo
contemporâneo. O corpus principal da pesquisa foi montado com os retratos
sociológicos (ou biografias sociológicas) de três professores de IES paraibanas, de
diferentes áreas do conhecimento, seguindo os critérios de seleção concernentes à
metodologia utilizada. Para a realização dos retratos, foi efetivada uma série de
entrevistas em profundidade com os docentes, além de encontros informais. Ao todo,
cada indivíduo passou por três ou quatro sessões de entrevistas com aproximadamente
duas horas e meia de duração cada uma delas, que posteriormente foram transcritas na
íntegra pela pesquisadora. Como resultado, observou-se que a separação entre ciência e
religião se processa especialmente em nível discursivo, mas no terreno da existência, do
cotidiano dos atores, ela não é disjuntiva. O seu elemento de conjunção foi encontrado
nos esquemas disposicionais dos indivíduos estudados. Percebeu-se como as tendências
contrárias, envolvendo fé e razão, acomodam-se de modo muito singular em cada indivíduo, mas resguardam pontos coincidentes, como: momentos de reexaminação das
próprias crenças, reordenamento disposicional religioso como resultante de rupturas
biográficas e relatos, em maior ou menor grau, de lutas de si contra si.
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ANA RUTH DE MELO
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ENCONTROS NO TATAME: UMA ETNOGRAFIA COM JOVENS PRATICANTES DE JIU-JÍTSU NO BAIRRO FREI DAMIÃO EM JUAZEIRO DO NORTE-CE
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Orientador : MONICA LOURDES FRANCH GUTIERREZ
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Data: 25/06/2020
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Hora: 15:00
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O texto que aqui se apresenta resulta de algumas reflexões que surgiram a partir do meu
contato com um projeto social que visa proporcionar um espaço para que os jovens do
bairro Frei Damião, localizado no município de Juazeiro do Norte- CE, inicialmente
tidos como jovens em contexto de risco social, possam através da prática esportiva
disciplinar seus corpos, mas principalmente se socializarem, estabelecerem vínculos
afetivos e passarem por experiências que só o esporte pode proporcionar, como por
exemplo, participar de campeonatos, conhecer grandes nomes da modalidade que
praticam e conhecerem outros espaços de treino fora do bairro em que vivem. A prática
esportiva a qual me refiro é o Jiu-jítsu, arte milenar muito difundida aqui no Brasil e no
mundo, que pratico desde 2009 e me ajudou a pensar sobre categorias sociológicas
como juventude, lazer e esporte, e me fez perceber enquanto mulher praticante de um
esporte tipicamente masculino, em um bairro periférico, pois na época em que comecei
a treinar, de toda a escola na qual estudava, onde o projeto é realizado, eu era a única
menina que treinava, porém não tinha pensado sobre o significado ou porque disso
acontecer. Para desenvolver a pesquisa lanço mão de algumas ferramentas
metodológicas, como observação participante, diários de campo e entrevistas que me
auxiliam a refletir melhor sobre os dados coletados e como o conhecimento desse
esporte que nos parece tão violento e perigoso, tendo em vista o estreito contato entre os
corpos dos seus praticantes, na verdade tem muito a ver com disciplinar, moldar esses
corpos para que os indivíduos tenham mais controle dos seus impulsos.
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SUERIA DANTAS DE OLIVEIRA SILVA
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MULHERES NEGRAS E CÁRCERE: PERSPECTIVA INTERSECCIONAL ENTRE RAÇA, GÊNERO E CLASSE EM UNIDADE PRISIONAL DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA
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Orientador : TERESA CRISTINA FURTADO MATOS
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Data: 19/06/2020
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Hora: 11:00
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O sistema criminal brasileiro é um importante eixo do Estado responsável pela produção e reprodução de vulnerabilidades específicas, encarregadas do chamado continuum histórico que marca a transição entre escravidão e democracia, o qual, favorece a permanência verificada na relação senzala-favela- prisão. É, portanto, a instância
responsável pela perpetuação paradigmática que pesa sobre a corporeidade negra, enquanto indivíduos puníveis, e, desta forma, legitimados como sujeitos descartáveis. Tendo em vista, que o Estado se organiza por meio de preceitos racistas, machistas e
classistas, a reprodução de vulnerabilidades específicas dá-se a partir da intersecção desses três eixos potencialmente produtores da diferença. Será então, na instrumentação do encarceramento em massa de mulheres negras e pobres que se observa o ápice do descarte dessa população, verificado por meio da transmissão histórica de sofrimento
social e violências afins, dentro e fora do ambiente institucional, atuando dessa forma, como reprodutor das estruturas de dominação que perduram na sociedade. Esta pesquisa, objetivou compreender através da análise de histórias de vida de mulheres
negras, pobres e encarceradas do município de João Pessoa, as minucias específicas em suas trajetórias passadas que foram comuns e podem ser associadas à ocorrência do cárcere em suas vivências. No presente estudo, pôde ser percebido que o passado de violência, a condição de pobreza, o baixo nível escolar e a presença de pessoas próximas que já cumpriram ou cumprem pena em regime fechado, foram fatores importantes e comuns nas experiências das mulheres entrevistadas. Como parte dos achados, observou-se nesse grupo de mulheres, uma homogeneidade nos relatos a respeito
da experiência vivida com um dos principais atores responsáveis pela estrutura da justiça penal, a saber, o (a) juiz (a). Foi comum entre elas, o relato de tratamento por parte dos (das) juízes (as) baseado em preceitos racistas, machistas e classistas; verificou-se a aplicação de penas muito duras e que não levaram em conta a condição de primariedade, os quais, demonstraram em sua maioria, a predileção pelo regime fechado, a imposição de dificuldades de acesso a regimes com progressão de penas para o semiaberto ou prisão domiciliar fechada, e a determinação de punições baseadas na noção de castigo através do retorno ao regime fechado para aquelas mulheres que foram consideradas
descumpridoras do regime semiaberto, muitas vezes, por motivos absolutamente torpes; e da percepção comum, por parte delas, de que sofrem abertamente tratamento diferenciado em relação às apenadas de pele clara, sendo as mulheres negras mais vigiadas e seus deslizes tratados com maior severidade. No que se refere às mulheres brancas e jovens (que são as lidas como bonitas), foi verificada a predominância destas na realização de trabalhos mais leves, menos dificuldade de acesso a defensores públicos e gestores do sistema prisional, e o reconhecimento institucional positivo a questões referentes à estética física, com realização inclusive de um concurso de beleza, que tinha entre as candidatas concorrentes apenas mulheres brancas, embora, mais de 70% das apenadas sejam pretas e pardas. Verifica-se, portanto, a legitimação através da linguagem simbólica (beleza física) reforçando a discriminação baseada em raça como importante fomentadora de privilégios para as mulheres brancas. Estas, ainda que em condição de cárcere, recebem benefícios baseados em vantagem racial, que podem fazer com que suas experiências na prisão sejam menos violentas quando em comparação com as de mulheres negras dentro de uma mesma instituição.
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MARIANA SOARES PIRES MELO
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CORPO, VIOLÊNCIA E ESTADO: Percepções de operadores do sistema de justiça criminal acerca do homicídio depessoas LGBTQI+
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Data: 14/05/2020
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Hora: 09:00
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LINK: https://us02web.zoom.us/j/6527232604?pwd=h6YXRs61ppgxvzk40UKN_qIvOBo Esta tese analisa percepções de operadores do Sistema de Justiça Criminal (SJC) acerca de casos de Mortes de Pessoas LGBT na Paraíba. A partir da observação participante em delegacias, secretarias estaduais, julgamentos pelo tribunal do júri, e entrevistas semiestruturadas com 16 operadores e ex-operadores do SJC e 2 burocratas atuantes na esfera do executivo estadual, destaco como a determinação de categorias, a construção de documentos e as argumentações e estratégias empreendidas por estes atores estatais, constroem a definição da motivação homofóbica e suas características em casos de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI). Assim, nos debruçamos sobre o processo de constituição de enquadramento (BUTLER, 2015) para interpretação destes casos, de maneira a analisar sentidos relacionados ao ódio, à homofobia e à vulnerabilidade, bem como na leitura e alocação de determinados corpos, práticas e identidades em determinadas categorias. Nota-se que ao mesmo tempo, este processo contribui para a apreensão de corpos tidos como habitantes das margens (DAS:POOLE, 2004). Além disso, tais práticas nos permitem reconhecer no Estado sentidos de materialidade e legitimidade perante o ordenamento social. Refletimos, portanto, sobre as relações e os processos constitutivos que se estabelecem entre Estado, corpo e violência.
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BRUNA TAVARES PIMENTEL
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Colorindo conversas e desenhando histórias: experiências de crianças e adolescentes com doença falciforme na Paraíba
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Data: 26/03/2020
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Hora: 08:30
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O presente estudo aborda a experiência e concepções de crianças e adolescentes acerca da doença falciforme. A anemia falciforme como é conhecida, é uma doença genética que carrega o marcador de raça, uma vez que a população negra é a mais acometida. Trata-se de um estudo realizado com crianças e adolescentes acometidas do estado da Paraíba, cujos pais/responsáveis são membros da Associação Paraibana de Portadores de Anemias Hereditárias (ASPPAH). A associação foi a instituição mediadora no acesso as (os) participantes da pesquisa, realizada em quatro cidades: João Pessoa, Campina Grande, Areia e Santa Rita. Metodologicamente, o diálogo com os interlocutores se deu durante a produção de desenhos, no caso das crianças, e de entrevistas semiestruturadas com as (os) adolescentes. Através desta abordagem foi possível construir, identificar e analisar elementos de significação e sentido atribuídos às suas vivências com a doença, permitindo-nos entender a visão da criança e do adolescente sobre a doença, experiência da doença, aprendizado do autocuidado aprendido com pais e/ou responsáveis, assim como as principais queixas relacionadas às restrições como: não poder tomar banho de chuva, não sair em tempo frio e restrições no uso de algumas roupas. Para as crianças, a doença afeta suas vidas em diferentes contextos sociais, a exemplo do ambiente escolar, e suas experiências no ambiente hospitalar. Por fim, elas apontaram para preconceito, faltas escolares, recorrência em ambientes hospitalares e limitações em relações as brincadeiras infantis.
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FRANCISCO JOMARIO PEREIRA
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TRANSAR PODE, MAS VOCÊ NÃO DEVERIA: A Representação da Homossexualidade no Discurso Espírita Brasileiro
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Data: 02/03/2020
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Hora: 09:00
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Esta tese objetiva analisar as representações do sexo e sexualidade construídas a partir da interpretação do espiritismo brasileiro. Nesse intento, fazemos uso da autoetnografia para demarcar o lugar de fala, posição política e social do pesquisador. Como recurso metodológico, fizemos uso da Análise do Discurso para analisar o corpus que inclui, o Pentateuco Espírita, obras literárias e discursos de Divaldo Pereira Franco, que hoje personifica o espiritismo no Brasil, bem como obras de Chico Xavier. Para além das obras, realizamos entrevistas com homens gays espíritas, buscando compreender as representações e identidades construídas a partir da influência do espiritismo. Assim, amparado na Sociologia da Religião e na teoria foucaultiana, observamos que as representações construídas na literatura e nos discursos dos nossos interlocutores convergem com a perspectiva cristã, sendo reconfigurada a partir da apropriação do discurso científico, especificamente o psicológico de Carl Gustav Jung. Constitui-se uma estratégia discursiva que atua de maneira como se autor / doutrina se (des) responsabilizasse do dizer punitivo que se constrói em torno do sexo, sexualidade e da homossexualidade, o que chamamos de pedagogização da (des) responsabilização. Observamos que se institui um silenciamento disciplinar quanto aos temas sexualidade, sexo e homossexualidade. Cria- se assim, estratégias de pedagogização da sexualidade a partir da noção de sublimação das experiências sexuais, que seria parte do processo evolutivo espiritual, implicando na Lei da Ação e Reação inscrita na consciência do sujeito a partir da existência da Lei Divina, dando a sutil ideia de liberdade quanto a escolha da carreira sexual, onde o sujeito se torna o único responsável pelas escolhas no campo sexual, implicando em um processo de construção identitária único no universo cristão, tendo em vista que o espiritismo brasileiro reescreve a homossexualidade no discurso tradicional como natural, afastando a noção de pecado, bem como a lógica de tratamentos para combater essa orientação sexual.
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EMERSON ERIVAN DE ARAUJO RAMOS
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Feminicídio e necropolítica trans: os assassinatos de travestis e transexuais na Paraíba
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Data: 28/02/2020
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Hora: 16:00
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Entre 2010 e 2011, uma série de assassinatos de travestis ocorreu na cidade de Patos/PB. As investigações policiais apontaram que o autor do crime foi um conhecido policial militar da região. Através do estudo desse caso e de dados sobre os crimes violentos letais intencionais contra travestis e mulheres transexuais na Paraíba (fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado e pela Secretaria da Mulher e Diversidade Humana da Paraíba), esta tese tem por objetivo analisar a circularidade do poder na violência letal que atinge essas sujeitas, sustentando duas proposições centrais: (1) esses crimes são uma forma de feminicídio (transfeminicídio) e (2) correspondem ao efeito de um tipo específico de poder (necropoder) que tem como finalidade a produção da morte. Essas proposições relacionam-se com o fato de que a transição de gênero viola normas importantes na constituição de nossa forma social, de maneira que a violência é tanto uma resposta ao não enquadramento normativo dessas sujeitas quanto um modo de restabelecer as fronteiras de gênero desestabilizadas pela transição. Além disso, o trânsito do masculino para o feminino realizado pelas travestis e mulheres transexuais torna os corpos dessas sujeitas ainda mais expostos à violência, em razão de encarnarem também a vulnerabilidade social ligada ao feminino. Do ponto de vista teórico, para realizar tal análise, utilizo de categorias advindas de duas correntes intimamente relacionadas: o pós-estruturalismo e os estudos transgêneros. Os métodos científicos utilizados nesta tese mobilizam e reforçam instrumentais elaborados no interior dessas correntes, tais como dispositivo de poder, necropolítica, performatividade de gênero, precaridade, etc., de modo que demonstram a utilidade desses conceitos no esclarecimento e na denúncia da violência dirigida aos corpos trans. Com efeito, esses campos teóricos apresentam relevantes lineamentos sobre o gênero e o poder, que ajudam a observar a dimensão e a regularidade da violência contra a população de travestis e mulheres transexuais, levando a conclusões sobre como e por que morrem as travestis e mulheres transexuais articuladas ao longo deste trabalho.
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ANA KAROLINA DE ARAÚJO
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BUROCRACIA E VIDA MORAL: um estudo sobre as experiências morais nas práticas de auditores públicos no Estado da Paraíba
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Data: 28/02/2020
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Hora: 13:00
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Nos últimos anos houve um aumento nas ciências sociais dos estudos acerca da relação entre burocracia e valores morais, sobretudo na área da sociologia e antropologia do Estado, em que foi crescente o número de pesquisas etnográficas sobre as experiências morais dos indivíduos. Com o objetivo de contribuir com o conhecimento sociológico nesta área, este estudo tem por objetivo geral analisar as experiências morais das práticas de auditores públicos no Estado da Paraíba. A ideia central é compreender a dimensão moral das práticas de controle e transparência e investigar empiricamente as formas como esses valores estão sendo incorporados no cotidiano dos agentes públicos. Analisamos dois casos empíricos de experiência local de auditoria, na Controladoria Geral do Estado da Paraíba e na Controladoria Geral do Município de João Pessoa. Defendemos que é necessário analisar as formas de tecnologias de governo a partir do cotidiano das burocracias e das disputas entre os diversos campos de poder, tensionando os ideais técnicos e os valores morais e políticos.
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WANESSA SOUTO VELOSO
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Itinerários da subcidadania: vida moral e construção dos sentidos de justiça entre o público de dois programas de televisão em João Pessoa-PB
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Orientador : SIMONE MAGALHAES BRITO
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Data: 28/02/2020
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Hora: 08:00
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Esse trabalho analisa o cotidiano e a experiências de pessoas que buscam solucionar casos de injustiça social através de dois programas televisivos da cidade de João Pessoa. Baseada na perspectiva da Teoria Crítica, a pesquisa buscou revelar como os discursos moralizantes da indústria cultural operam e interferem na constituição de sentidos de justiça as camadas populares. Os programas Correio Verdade e Correio Manhã elaboram suas imagens a partir de a ideia de prestação de serviços e resolução de problemas do cotidiano do público. Como os programas não podem resolver a maioria das demandas que lhe chegam, passam a orientar e mediar a relação do público com os órgãos competentes, sinalizando os caminhos a trilhar em meio à burocracia estatal. Contudo, independente da resolução ou não das demandas, a mediação dos programas termina por reforçar, para a parcela da população em condição de vulnerabilidade social, a imagem da capacidade dos programas de televisão como órgãos de produção de justiça. Desse modo, a pesquisa apresenta os dilemas e as frustrações dessa parcela do público que se utiliza dos programas de televisão e da imagem de seus apresentadores para conseguir a realização de serviços públicos, buscar ajuda em condições de emergência ou mesmo caridade. A interação entre os programas de televisão e essa parcela do público produz um conjunto de itinerários, entre a mídia e a burocracia, que ressignificam os ideais de justiça a partir de uma lógica de subcidadania (Souza, 2006).
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FABIO GUIMARAES LIBERAL
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Austeridade e epifania: a cultura da autenticidade dos cozinheiros contemporâneos
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Orientador : SIMONE MAGALHAES BRITO
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Data: 27/02/2020
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Hora: 14:00
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O intuito deste estudo foi mostrar de que modo se constituiu uma cultura da autenticidade entre os cozinheiros e chefs, e quais as suas particularidades em termos de representação simbólica e referenciais morais. Defendemos que o mundo da gastronomia tornou-se um ambiente paradigmático para a investigação da autenticidade na medida em que produz uma relação dialética seminal entre expressivismo (inspiração, criação e liberdade) e rigor de inspiração militar (trabalho braçal pesado, longas horas em pé, regime hierárquico de brigada, ambiente frequentemente insalubre). Sendo assim, buscamos compreender os sentidos atribuídos por estudantes de gastronomia e profissionais da área no que tange a expressão da singularidade dos sujeitos. Prestamos atenção nas estratégias utilizadas para diferenciar autenticidade e inautenticidade, de modo que fosse possível captar os efeitos sociais dessa distinção que marca a condição do cozinheiro contemporâneo. A pesquisa qualitativa foi o método de investigação utilizado. Ela se baseou em entrevistas com estudantes e profissionais da área, além de observação participante em eventos gastronômicos e em dois restaurantes situados no Recife. A partir desse trabalho de campo, observamos que a busca por autenticidade estabelece uma promessa de fuga da austeridade da cozinha, ao mesmo tempo que gera uma sobrecarga do/no self, uma vez que ele é convocado a projetar seu estilo em todos os pormenores da vida. Este encargo, produz com frequência um quadro sintomático de mal-estar social (ansiedade, depressão, burnout), que é encoberto pelo processo de consagração e mistificação da própria estética
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ISABELLE SENA GOMES
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Corpo saudável, risco e sedentarismo: uma cartografia dos discursos no território da educação física
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Data: 27/02/2020
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Hora: 09:00
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Vivemos em uma sociedade que valoriza demasiadamente corpo e saúde, bem como os investimentos feitos em seu nome. Com o advento dos avanços (bio)tecnológicos, do cálculo epidemiológico, da informação, das expertises e do leque de recursos de fabricação do corpo, verdadeiras utopias foram/são construídas nas últimas décadas em torno de uma forma corporificada de saúde, que vem desdobrando-se e agregando discursos e práticas: o corpo saudável. É neste cenário que esta pesquisa objetivou investigar o discurso de corpo saudável formulado no campo da educação física, no intuito de compreender como este constituiu uma categoria tomada como valor social e qual a implicação da criação de tal categoria para a inserção política da educação física como campo disciplinar e para a vida dos sujeitos. O percurso da pesquisa segue os pressupostos da cartografia, que se constitui como orientação metodológica rizomática e divide-se em dois momentos: uma trilha de inspiração genealógica e uma trilha percorrida no trabalho de terreno. O trabalho de terreno teve a duração de 18 meses (2016-2017) e foi realizado em duas academias de ginástica da grande João Pessoa (PB). A inspiração para a análise do material oriundo do trabalho de terreno é a análise de discurso foucaultiana. Objeto de interesse de muitos campos (sobretudo da biomedicina e da educação física), o corpo saudável dispositivo é fruto de uma confluência de saberes, poderes e verdades. Sua forma contemporânea sofreu influência da reestruturação do campo da educação física no século XX, bem como conferiu a este capital simbólico e legitimidade, à medida que os saberes biomédicos eram agenciados no interior do campo. Concomitantemente, a racionalidade epidemiológica, na esteira do combate aos riscos à saúde, viabilizou a co-produção da noção de sedentarismo nos discursos, que por sua vez serviu ao dispositivo como sua face negativa. Mirando nos discursos possíveis, ao longo do trabalho elementos são apresentados como pistas do corpo saudável, tais como: a reestruturação de um campo em torno deste novo objeto de intervenção; a co-produção do sedentarismo, a partir da noção de risco, pela educação física e pela biomedicina, que configurou a face negativa dos discursos de corpo saudável; a importância dos objetos da academia para a produção de discursos sobre o corpo; a mobilização de subjetividades/práticas na fabricação do corpo; a possibilidade de construção e comunicação da noção de corpo saudável na performance e no desempenho. Com os achados da pesquisa, aponto que os discursos de corpo saudável da educação física convergem para sujeitos empreendedores de si, autovigilantes, moralmente responsabilizados pela saúde do corpo e dedicados ao desempenho como forma de reafirmação da própria saúde, o que denota algo processual e inacabado. No entanto, este mesmo sujeito é dotado de agência e nos seus fazeres ressignifica o que compreende como corpo saudável. Esta hipótese encontra no curso das análises uma sociedade positiva que impele os sujeitos para a performance, para o desempenho e para as pressões do poder fazer, em detrimento da disciplina do dever fazer.
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VICTOR DE OLIVEIRA RODRIGUES
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Trabalho, desenvolvimento e ação sindical em Pernambuco: o SindMetal-PE diante do polo naval e do polo automotivo
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Data: 27/02/2020
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Hora: 09:00
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Enquanto nos anos 1980, nos EUA e na Europa, discutia-se a crise do sindicalismo, o movimento sindical brasileiro vivenciava uma de suas fases mais efervescentes, protagonizando greves e mobilizações massivas com o surgimento do novo sindicalismo, que teve início na região do ABC paulista e se expandiu para as demais regiões do país, questionando a estrutura sindical oficial, desafiando os patrões e o governo ditatorial. Em Pernambuco, os metalúrgicos estiveram entre as categorias mais ativas, com a oposição sindical, representada na chapa Zé Ferrugem, conquistando a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (SindMetal-PE) em 1981. No entanto, na década seguinte, a abertura econômica, as privatizações e as novas formas de gerenciamento do trabalho ergueram obstáculos à ação sindical, instaurando uma crise no sindicalismo brasileiro. Em 2003, a eleição de um ex-líder sindical para a presidência da república representou uma guinada na ortodoxia neoliberal e a ampliação da interlocução com o movimento sindical. Símbolos da nova perspectiva desenvolvimentista adotada no Brasil, o surgimento do polo naval de Suape, em 2008, e do polo automotivo de Goiana, em 2015, em Pernambuco, trouxeram desafios para a atuação e a organização sindical. Esse contexto foi tomado como objeto de estudo nesta pesquisa, que teve como objetivo geral analisar algumas das principais mudanças pelas quais tem passado o sindicalismo brasileiro a partir do caso específico do SindMetal- PE, avaliando os limites e as possibilidades de atuação desse sindicato. O repertório metodológico contou com a análise de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), materiais produzidos pelo sindicato, aplicação de questionário e a realização de entrevistas com trabalhadores e dirigentes sindicais. A partir da análise do contexto e dos recursos do poder sindical, verificou-se um descompasso entre o novo contingente de trabalhadores metalúrgicos e a ação do SindMetal-PE, fazendo com que o sindicato tivesse dificuldades em se colocar como representante de fato da categoria. Além disso, com a reconstituição parcial e a análise das trajetórias de duas gerações de sindicalistas, constataram-se mudanças fundamentais nas formas de agenciamento e recrutamento de novas lideranças, o que fez com que o sindicato atraísse um novo perfil de dirigentes, mais marcado pela atuação rotineira que pelo engajamento militante, gerando, assim, limitações no repertório de atuação da entidade.
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LUANA SANTOS CUNHA
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A deficiência já limita, não posso limitar minha sexualidade: Um estudo sobre corpo e sexualidade a partir da Paralisia Cerebral
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Data: 19/02/2020
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Hora: 09:00
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Este trabalho se interroga sobre os sentidos atribuídos à sexualidade de pessoas com paralisia cerebral priorizando a percepção dos próprios sujeitos. A tese aqui defendida é a da invisibilidade da sexualidade das pessoas com paralisia cerebral que reivindicam além da cidadania, direitos sexuais e reprodutivos. Para tanto, parte de relatos sobre o que significa viver com paralisia cerebral focando as experiências que giram em torno da sexualidade, sem deixar de realizar uma discussão sobre o corpo, a autonomia e a noção de pessoa, tendo como base o aporte teórico dos Disability Studies. A construção do corpo como algo social que muitas vezes sugere uma ideia de perfeição, completude, beleza, e capacidade, por isso, buscou-se compreender como tais concepções implicam nas dinâmicas sociais, projeções e expectativas que construímos sobre os sujeitos que afetam a vida dos indivíduos, localizadas sobretudo no mundo do trabalho, mas também na família, na sociabilidade e nas relações afetivas, entre outras esferas da vida social. O debate sobre essas questões foi realizado com base na construção e análise de narrativas sobre o corpo e a sexualidade através de relatos do cotidiano de pessoas com paralisia cerebral que trouxeram à tona questões sobre estigmas, os processos de formação da família envolvendo discussões sobre conjugalidade e parentalidade e narrativas sobre autonomia. A pesquisa conclui a existência de uma pluralidade de sentidos acerca do que entendemos por pessoa levando em consideração diferenças de gênero, inserção institucional, relacionamentos, estilos de vida, momento do curso da vida, independência e ativismos, principalmente quando compreendemos que a esfera da sexualidade não pode ser desvinculada de discussões políticas, como bem nos lembra Gayle Rubin ao afirmar a importância de olhar para a própria política interna da sexualidade, suas desigualdades, e modos de opressão.
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SANDRA REGINA GUIOTTI
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OS DESCAMINHOS DA REFORMA TRABALHISTA NO BRASIL A CUT E OS DESAFIOS ATUAIS
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Data: 17/02/2020
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Hora: 15:00
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Esta pesquisa de pós-graduação (nível Mestrado) tem como objeto de estudo os caminhos e descaminhos da reforma trabalhista no Brasil, o processo histórico regulador das leis laborais e a participação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no processo de discussão e aprovação de tal reforma. Inicialmente, o trabalho analisa a fundamentação histórica da regulação do trabalho no Brasil, assim como uma reflexão acerca do próprio conceito de regulação social do trabalho. Posteriormente, observarmos os posicionamentos da CUT junto às dinâmicas institucionais da reforma trabalhista, desde o período do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) até a sua aprovação em julho de 2017, passando a vigorar em novembro deste mesmo ano, com ênfase no período dos governos do presidente Lula da Silva (2003-2010) e da presidenta Dilma Rousseff (2011-agosto 2016). Para a realização desta dissertação, a metodologia escolhida foi a de pesquisa qualitativa apoiada em entrevistas com os principais atores do processo assinalado, além da pesquisa bibliográfica com os principais autores e institutos de pesquisa que abordam a reforma trabalhista e todo o escopo que o tema envolve.
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