Os jornalistas, como comunidade interpretativa, ou tribo, se definem por meio de traços sociais e pelo domínio de saberes práticos que permitem a reivindicação de um campo profissional específico. Esta cultura jornalística também é rica em mitos e representações sociais que buscam legitimar o papel desempenhado pelo jornalista na sociedade, mitos estes que muitas vezes mascaram a realidade profissional. Nascidos nos jornais, os quadrinhos modernos têm tradição na representação de jornalistas como personagens. Esta representação, especialmente nos quadrinhos de super-heróis, de aventura e gêneros correlatos, serviu por muito tempo para reforças a imagem profissional contida no mito. Porém, à medida que esses quadrinhos amadureceram narrativa e tematicamente, essa representação passou a ser problematizada, expondo a ideologia por trás desses mitos. Esta pesquisa busca mostrar esse fenômeno por meio de um estudo de caso sobre a série Transmetropolitan. Para isso, defendemos que esses quadrinhos se apoiam numa visão contracultural em relação à sociedade contemporânea e ao papel do jornalista nela, ao recorrer à narrativa cyberpunk e a um estilo de reportagem defendido pelo Novo Jornalismo para problematizar esses mitos.