Da oralidade à mediação, as narrativas passaram por momentos de reconfiguração constante. A popularização do uso dos computadores e de suas funções pós-massivas tem possibilitado novas instâncias às formas de se contar histórias, colocando em prática um sistema de comunicação aparentemente horizontal quando histórias são contadas em ambientes que elevam o status de espectador a interator. Em uma situação de convergência, estas histórias deixam para trás a narrativa em uma única mídia e passam a ser contadas de forma transmidiática, criando um universo fictício e imersivo para os espectadores interagirem. De um lado, os bastidores, do outro lado, o público. No meio, um espelho que não permite distinguir realidade de ficção. Este texto pretende retomar uma reflexão teórica através de situações empíricas sobre o conceito que promove estes embaralhamentos, o de narrativa transmidiática, instituído por Henry Jenkins entre 2000 e 2011. Esta discussão se mostra pertinente a partir do momento que novas vertentes do conceito se popularizam e, principalmente, novo objetos trazem situações ainda estranhas ao fenômeno, como a série nacional Alice, produzida e exibida pelo canal HBO Latin America. Alice traz a discussão para a produção nacional transmidiática e destaca uma particularidade: os personagens não só existiam na televisão e nas redes sociais (Orkut, Twitter, Facebook), como também “atravessaram o espelho” e passaram a habitar o cotidiano, indo a eventos e criando situações que funcionavam como desdobramentos dos acontecimentos dos episódios, trazendo novas situações para o conceito de transmídia, que Max Giovagnolli (2011) passa a chamar de “ações urbanas”. Questionamos então a televisão no lugar deste “espelho”, dentro deste novo sistema narrativo e comunicacional e tentamos entender quais funções o novo local de espectadores dentro desta mídia traz para a comunicação.