Para as ciências da linguagem, o certo e o errado na língua são noções relativas. No entanto, convive-se com elas como se fossem um valor absoluto, portadoras de uma verdade inerente e imutável. Diante disso, o interesse central dessa pesquisa é analisar a construção da língua portuguesa no discurso jornalístico da Revista Veja, tomando como viés a relação entre mídia e cotidiano. Nesse sentido, iremos observar mais especificamente as estratégias enunciativas empregadas pela mídia impressa a fim de formar e estabelecer consensos sobre as noções de língua portuguesa na vida cotidiana de cada um de nós. Para tanto, teremos como corpus dez reportagens da revista semanal de maior circulação do Brasil cujo tema seja língua, veiculadas entre 2001 e 2011. Na análise, aponto a mecânica de mediação da mídia tal como proposta por Silverstone (2005), ou seja, procurei perceber através de um exame discursivo-argumentativa como a mídia trabalha a fim de persuadir, agradar e seduzir. Assim, a pesquisa analisa de que forma os discursos jornalísticos da Veja lança mão de diferentes estratégias discursivas que ela vai buscar no imaginário social a fim de tecer noções sobre a língua portuguesa no cotidiano, procurando mostrar como se da o que chamo de produção de encantamento. Recorri aos estudos de Barthes (2006), Maingueneau (2004), Charaudeau (2006) e Benetti (2008) a fim de analisar as estratégias de convencimento mais comuns no jornalismo, que é recorrer aos mitos, clichês e aos mapas culturais de significados que estão presentes no senso comum a fim de dar veracidade ao seu discurso, construindo assim significações e fortalecendo estereótipos no imaginário social. Por isso, essa pesquisa investiga também o jornalismo em sua dimensão simbólico-mítica, a partir da aproximação com referenciais teórico-metodológicos das teorias do imaginário.