CCHLA - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL (PPGPS)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
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Banca de QUALIFICAÇÃO: JESSIANE DAYANE SOARES DA SILVA
Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: JESSIANE DAYANE SOARES DA SILVA
DATA: 19/11/2024
HORA: 00:00
LOCAL: Auditório 412 CCHLA
TÍTULO: ENTENDENDO O APOIO A POLÍTICOS CONSERVADORES E LIBERAIS: VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS E FUNDAMENTOS MORAIS
PALAVRAS-CHAVES:
RESUMO: Ao longo da última década, a polarização no Brasil tem se intensificado dando notoriedade à dicotomia esquerda-direita (Glória Filho & Modesto, 2023) e assimilando- se aos Estados Unidos (Ortellado et al., 2022). A polarização reflete um choque de visões sobre questões tidas como moralmente fundamentais. Dessa forma, a Teoria dos Fundamentos Morais (TFM) discute a existência de cinco fatores que representam módulos cognitivos sob os quais as culturas constroem suas matrizes morais, que são: cuidado, justiça, lealdade, autoridade e pureza. Os dois primeiros são conhecidos como individualizantes porque promovem a autonomia e proteção dos indivíduos, enquanto os três últimos são chamados de vinculativos porque consolidam grupos sociais e comunidades (Ballout et al., 2023). Essa abordagem intuicionista da moralidade vem contribuindo para compreensão de fenômenos como radicalismo e ativismo no Brasil (Gloria Filho & Modesto, 2019), podendo nos ajudar a compreender diferenças no julgamento de transgressões morais entre eleitores liberais e conservadores. Para isso, o Estudo 1 foi desenvolvido tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. A pesquisa foi desenvolvida contando com 473 brasileiros (M = 27,92; DP = 9,78) e 206 estadunidenses (M = 36; DP = 13,01) que responderam o Questionário de Transgressões Morais (QTM), o Questionário de Fundamentos Morais (QFM) e perguntas de caracterização da amostra. No Brasil, o QTM apresentou adequabilidade para seu uso em pesquisas (푥2/gl = 3,08; CFI = 0,90; TLI = 0,90; RMSEA = 0,067), com índices de confiabilidade variando de 0,68 (α do fator autoridade) a 0,86 (α do fator cuidado). De igual forma, nos Estados Unidos o instrumento também pode ser tido como adequado (푥2/gl = 1,46; CFI = 0,95; TLI = 0,95; RMSEA = 0,048) com índices de consistência interna variando de 0,75 (α de autoridade) a 0,91 (α de cuidado). O instrumento apresenta cenários que relatam
transgressões pautadas em cada um dos fatores da TFM. Em ambos os países, o teste t mostrou que as vinhetas pautadas em transgressões referentes ao cuidado e à liberdade foram consideradas como mais ultrajantes para os liberais. Todavia, os cenários baseados em justiça foram tidos como mais graves para os liberais nos Estados Unidos e para os conservadores no Brasil. Quanto a isso, deve-se considerar que para alguns, justiça implica em igualdade e para outros, proporcionalidade (Haidt, 2020). É possível que alguns eleitores reduzam seu apoio ao candidato diante das transgressões, mas também deve ser considerado a possibilidade de dissonância cognitiva proveniente do conflito entre sua crença no candidato e a atitude transgressora dele. A análise de correlação mostrou associação da dissonância para liberais no Brasil quando se tratando de transgressões pautadas em cuidado, justiça, autoridade e liberdade, enquanto para os conservadores, houve correlação apenas com os fundamentos de justiça e liberdade. Já nos Estados Unidos, a dissonância se correlacionou apenas com os conservadores, tratando-se de todas as transgressões, exceto as pautadas em pureza. Para retomar ao equilíbrio, estratégias da busca pela consistência podem ser tomadas (Al Marrar & Allevato, 2022), a exemplo de questionar a fonte de informação ou depreciar ainda mais o outro candidato. Explorando a relação desses fundamentos com a orientação política e o apoio aos candidatos, a análise mostrou que os fundamentos vinculativos se correlacionaram com a orientação política e com o apoio a candidatos de direita, como Bolsonaro e Temer. Nos Estados Unidos, os mesmos fundamentos se associaram com o apoio a candidatos conservadores como Trump e Pence. Esse resultado demonstra que aqueles que possuem os fundamentos vinculativos como prioritários, tendem a ser conservadores (Rodrigues et al., 2022). Por fim, para explorar melhor esse apoio, foram selecionados os candidatos mais cotados para ambos os lados do espectro. Para apoio ao candidato Lula e Bolsonaro, variáveis como religiosidade e idade, assim como o fundamento de autoridade, foram significativos para explicar o desfecho de apoio. Para Ocasio-Cortez e Trump, o grau de religiosidade os fundamentos de lealdade, autoridade e cuidado puderam predizer o seu apoio. Os resultados aqui reportados contribuem para o avanço da discussão sobre a polarização ideológica, a partir dos fundamentos morais e seu potencial de explicação para apoio de candidatos liberais e conservadores. Compreender quais aspectos são moralmente priorizados pelos membros de cada um dos polos partidários permite entender as possíveis implicações das transgressões morais nos eleitores, podendo gerar inclusive, dissonância cognitiva (Festinger, 1957). No Estudo 2, objetiva-se verificar o papel das transgressões, fundamentos morais e variáveis cognitivas
(i.e., reflexão e necessidade de cognição) para explicar o apoio e a atitude em relação ao político transgressor, bem como ao seu principal opositor.
Palavras-chaves: fundamentos morais, transgressões morais, liberais, conservadores, dissonância cognitiva.
Referências
Al Marrar, M., & Allevato, E. (2022). Cognitive dissonance: affecting party orientation and selective recall of political information. Athens Journal of Social Sciences, 9(2), 115-140. https://doi.org/10.30958/ajss.9-2-2
Ballout, M. H., Briggs, A., Armstrong, J., & Clark, C. B. (2023). Assessing the relative contribution of Moral Foundation Theory, Right-Wing Authoritarianism, and Social Dominance Orientation in the prediction of political orientation. Revista Interamericana de Psicologia, 57(3), 01-21. https://doi.org/10.30849/ripijp.v57i3.1756
Festinger, L. (1957). A theory of cognitive dissonance. Stanford University Press. Gloria Filho, M., & Modesto, J. G. (2019). Morality, activism and radicalism in the
Brazilian left and the Brazilian Right. Trends in Psychology, 27(3), 763-777.
https://doi.org/10.9788/TP2019.3-12
Gloria Filho, M., & Modesto, J. G. (2023). Polarização política afetiva e bem-estar subjetivo no contexto político brasileiro. Psico, 54(1), 1-10. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2023.1.39825
Haidt, J. (2020). A mente moralista: por que pessoas boas são segregadas por política e religião. Alta Cult.
Ortellado, P., Ribeiro, M. M., & Zeine, L. (2022). Existe polarização política no Brasil? Análise das evidências em duas séries de pesquisa de opinião. Opinião Pública, 28(1), 62-91. https://doi.org/10.1590/1807-0191202228162
Rodrigues, D. F., Galvão, V. K., Mendes, A. N., & Pontes, K. C. M. (2022). Crenças individuais, ações coletivas: como as decisões morais afetam o comportamento político em redes sociais?. Direito, Processo e Cidadania, 1(3), 152-172. https://doi.org/10.25247/2764-8907.2022.v1n3.p152-172
MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 1339707 - RENAN PEREIRA MONTEIRO
Interno - 3212546 - ROMULO LUSTOSA PIMENTEIRA DE MELO
Externo à Instituição - POLLYANA DE LUCENA MOREIRA